sexta-feira, 28 de março de 2008




O PAI...
O FILHO...
A POESIA!





Pai! A poesia é do homem a chama
Que acende luzes onde a escuridão campeia!
Ela é o archote que ilumina o mundo,
É a liberdade que ninguém cerceia!

Pai! A poesia é do homem o dote
Que quebra elos de qualquer cadeia!
Ela é a cruz que afugenta algozes,
É o fogo santo que a amor ateia!

Pai! A poesia já não mais precisa
Rimar seus versos para falar de paz!
Se quebra a rima a poesia é forte
Para falar teu nome: O teu nome, Pai!

Pai! A poesia é o sentimento nato
Que o dinheiro não violentou!
É andorinha que nos beirais da porta
Faz o seu ninho que é um lar de amor!

Pai! A poesia não suporta jugos
Pois é o néctar que o ideal consome!
Mas, chega humilde e de humildade santa
Lhe pede vênia para escrever teu nome!


Pai! A poesia vem lhe pedir licença,
Vem tão medrosa lhe chamar: SENHOR!
Ela que nunca se curvou ao mundo
Ajoelhada aos teus pés prostou!


Pai! A poesia reconhece o forte
Que fez da vida o ideal de amar!
E é por isso que ela vem agora
Beijar tua face e te acariciar!




Pai A poesia é de Deus a fada
Que espalha o bem sem escolher Nação!
Por ser de Deus, é a própria vida,
E por ser vida, teve criação!


E é por isso que ela chega humilde
Pois ela é a vida que você criou.
Ela é seu filho que nos versos rima
O amor da vida que você gerou!

Ela é a vida que você um dia
Pediu a Deus pra mamãe gerar!
Ela é o amor de cabelos brancos
Que estamos agora a comemorar!

Pai! A poesia já perdeu as asas,
É ave mansa que retorna ao ninho!
Ela é seu filho que lhe pede a bênção,
Pede o seu beijo e o seu carinho!

Pai! A poesia que voou tão alto,
Volta à terra e nos seus braços cai!
Quer recordar de um passado o tempo
Que balbuciava o teu nome: PAI!

Que andava trôpega sem recear a queda
Pois nos teus braços tinha proteção.
Se ela caísse tu sentias tanto
E a poesia não sentia, não!

Pai! A poesia que não teme o mundo,
Treme de frio e já quer chorar!
Não encontra verso pra dizer teu nome
Não encontra rima pra te confessar!

Te confessar que a alegria é tanta
Ver uma família reunida em paz!
De ter por mãe uma mulher tão santa
De ter nascido de você, oh! Pai!

Pede licença para sair da sala,
Sair correndo pra ninguém notar!
A poesia que não teme o mundo,
Fecha seus versos, pois já quer chorar!

Pede desculpas por não ser tão forte,
Ela que pensava ser a fortaleza!
Hoje ela sabe que o mais forte rei
Ante você perde a realeza!

Pai! A poesia que você um dia
Pediu a Deus para mamãe gerar,
Pede licença para beijar teu rosto
E no teu colo se agasalhar!



Bodas de Ouro de
Aparício e Hilda
Em 18-07-1981
(Para os meus irmãos. Relembrar momentos tão felizez!)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Crônica escrita para o programa Carnê Social – Rádio Bahiana – em 08/04/1975


Oh! Quando a chuva vem molhar a terra, salpicar toda a extensão dos caminhos, banhar as flores e as folhas verdes dos jardins da vida, eu me recordo de ti, meu anjo divino!
Quando as nuvens escondem a lua teimosa, trazendo o frio ao meu corpo cansado, minh’alma se estremece de desejos de abraçar-te carinhosamente, osculando em teus lábios os beijos de amor!
No ocaso sangrento das tardes, no alvorecer alegre das manhãs, na trilha difícil em busca da glória, tu és minha inspiração, fonte permanente de encorajamento e de incentivo. Eu - pobre poeta – enamorado dos teus olhos, que não tenho deus nem religião, às vezes aos teus pés venho adorar-te! É que tu és o meu anjo divino, o deus de todas as realidades, a força das minhas fraquezas, o meu entusiasmo, a minha vida! Sem ti, minh’alma tropeçaria nos arrecifes do destino e, ao certo, cairia nos abismos das frustrações e dos pecados!
No respirar da brisa suave de todas as madrugadas, no sentir de todas as nostalgias, tu se me aparece mais mulher, mais enamorada, mais carinhosa.
Quem seria eu querida minha – sem as tuas palavras, sem o teu perfume, sem o suave carinho de tuas mãos de santa?
Por certo que o homem só, vagabundo das noites frias e das madrugadas ébrias de solidão! Talvez um ser errôneo, caminhante incerto das trilhas da vida, poeta triste, sem nome e sem lar!
Eu te agradeço – mulher sublime – a dedicação de teus carinhos, a fidelidade de tu’alma, o conforto da tua presença, o beijo dos teus lábios, o lânguido olhar dos teus olhos negros!
Eu te agradeço, sobretudo, pela compreensão, por saber frutificar um amor santo, por saber ser mulher!
E, no ocaso de todas as tardes, no alvorecer de todas as manhãs, nas frustrações e nas alegrias, no sorriso e na dor, nós nos encontramos a nós mesmos, na essência divina da realidade, amando-nos, querendo-nos mutuamente, na magistral significação do amor!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Canto de Pagina
12 a 18 - 11 -87
Jornal Sudoeste

Escrevo sob um céu nublado, de azul enegrecido. Faz calor e gotas de suor se me afloram à pele, descendo pelas mãos, molhando o teclado da velha máquina onde dedilho estas mal traçadas linhas.
Jequié está na iminência de um colapso total no seu abastecimento d’água. A EMBASA já não tem onde buscar solução. A obra emergencial em construção no Rio Guaíba continua, mas somente no final deste mês estará concluída. Até lá, caso não chova, a vazão desse rio tende a baixar. Resultado: pode-se concluir a obra, e no rio não haverá mais água! E daí?
Fico pensando, - enquanto o suor vaza pelos poros, - porque diabos a EMBASA não fez, até agora, a captação de água na Barragem de Pedra. Lógico que irão argumentar, que uma obra desse porte implicará em alocação de recursos consideráveis, projetos dos mais ousados e financiamentos até mesmo internacionais. Aceito tudo, com paciência e resignação. Mas, permito-me ficar indignado.
O que estamos a assistir, agora, é uma previsão falha para o nosso sistema de água. Se eu fosse ouvir a conversa de certo doutor da EMBASA, hoje não teria uma gota d’água em casa.
Lembro-me que esse técnico garantiu-me que a duplicação realizada em o nosso sistema abastecedor, daria para manter Jequié até o ano 2000, sem faltar água nas torneiras de nenhuma casa! Armazenar água, dizia-me o entendido, já era. A água vai fluir normalmente pelas torneiras; para isso, basta você abri-las...
Pobre homem! Ele não sabia fazer previsão! Hoje, ele mesmo deve alegar que os fenômenos climáticos, a destruição de ozônio, o “El Nino”, tudo isto está indo de encontro às previsões técnicas. Aceito, em parte. Mas, se previsão é o ato ou efeito de prever; é a antevisão, por certo que os técnicos da EMBASA não sabiam o seu significado. Por serem técnicos, deveriam reconhecer que aquele serviço feito em o nosso sistema de abastecimento, não suportaria a demanda até o ano 2000!
Creio quer as chuvas virão até o final deste mês. Receio, porém, que em enchendo a barragem do Rio Preto, a obra emergencial seja paralisada.
Que os técnicos da EMBASA sensibilizem o Senhor Governador para o inicio imediato da captação na Barragem de Pedra, MESMO COM O SISTEMA DE ÁGUA REGULARIZADO! Pensemos no futuro! Não vamos fazer como aquele “técnico” que garantiu água corrente nas torneiras até o ano 2000!
Todos sabem que a natureza está sendo violentada. E ela reage sempre com violência. Aliás, alguém já me disse certa vez: Deus perdoa sempre; os homens, às vezes; a Natureza, nunca!
Depois, não venham se queixar, quando faltar água até para lavar os olhos ressequidos pelo arrependimento.
+++++++
(Matéria publicada no Jornal Sudoeste em novembro de 1987. Hoje Jequié já é abastecida com água captada na Barragem de Pedra. O problema foi resolvido).
Comentando o Fato
Jornal Jequié
08 a 14 – 04 – 87

Falam e escrevem muito sobre o Aedes Egypti, o tal mosquito que transmite a dengue. Não sei se o paciente acometido desta virose é chamado de dengoso. Sei, isto sim, que o tal mosquito deve ser muito mais perigoso do que a nossa tão conhecida muriçoca. Esta apenasmente incomoda com o seu ruído e suas alfinetadas. Mas, diga-se de passagem, não faz muito mal. Agora, o tal do Aedes Egypti é de lascar. Quando aparece, movimenta imprensa falada, escrita, televisada, autoridades, povo, poderes executivo, legislativo, judiciário e eclesiástico! Ninguém fica de braços cruzados quando o mosquito da dengue bota a cara de fora, isto, o ferrão de fora.
Agora mesmo, uma cidade na Bahia é manchete na televisão e nos jornais por causa do tal mosquito. Imagino se aparecer aqui o Aedes. Não sou letrado em epidemiologia, não sou sanitarista ou coisa parecida. Mas, qualquer um, do Mobral à Universidade sabe que mosquito, seja Aedes ou pernilongo, muriçoca ou maruim precisa de água estagnada para desovar. Quer dizer com isto, que tendo sujeira, imundície, qualquer mosquito de meia tijela tem campo para proliferação.
Aqui em Jequié, ele vai se “campar”. Não vai ter nem para o começo. Uma cidade limpa, sem esgoto à flor da terra, com todos os reservatórios de água nas residências hermeticamente lacrados, sem mato próximo às zonas habitacionais, sem lixo, com um sistema de saúde pública dos mais modernos, com postos de saúde espalhados por todos os quarteirões, não é aqui, em Jequié, que esse Aedes vai querer pousar!
Aliás, por falar nisso, lembrei-me: tem um buraco no calçamento defronte a Unilar, ao lado do Edifício Rotary. Tem gente, por falta de conhecimento, dizendo que uma rede de esgoto sanitário passa por ali. Ora, vejam só! Uma cidade que tem a sede do Pólo Regional da Embasa, que tem Prefeito formado em farmácia, logo obrigatoriamente bioquímico, que tem a sede da 13ª Diretoria Regional de Saúde do Estado, vai deixar, por mais de 15 dias, um buraco aberto por onde passa um esgoto? Tenha santa paciência!
Só pode ser mesmo critica de demagogos políticos. Aquilo, pelo que me parece, é o inicio do metrô subterrâneo que ligará em futuro próximo o bairro Jequiezinho com o centro da cidade!
Então, não há porque tanta preocupação com a epidemia de dengue aqui em Jequié. Os terrenos baldios estão devidamente limpos, sem lixo algum; as barracas instaladas na Praça Ruy Barbosa, que servem cerveja, refrigerantes, sucos e similares, têm sanitários higienicamente construídos, e não jogam detrito algum no meio da rua. Ou será que pensam, leitores e povão, a Prefeitura iria permitir que barracas ficassem eternamente na praça sem tais requisitos? Bem, fiquemos por aqui. Da feira livre, ah, nem é bom falar!
Não perco um segundo do meu sono preocupado com a dengue. Durmo a noite inteira. Sei que a saúde pública de Jequié está protegida, pois conta com todos os recursos necessários. Então, porque preocupar-me?
A SUCAM, que tem um posto aqui na cidade, outro dia estava para ser desativada e transferida para Vitória da Conquista. Mas, não foi. Deve ter verbas e mais verbas para combater o tal Aedes Egypti.
Ademais, dormir de ventilador ligado (não estamos racionando energia), sob mosquiteiros e corpo untado de repelente (Autan, é legal), não é mesmo confortante e restaurador?
Porque nos preocuparmos com a dengue, esta epidemia tola que anda por aí? E, ainda tem mais: se aparecer por aqui um Aedes meio baratinado e iniciar sua proliferação, o que vai dar de repórteres de televisão e jornal e rádio na cidade, não está no Gibi! Melhora o comércio, muita gente vai deitar falação.
Autoridades sairão no Bom Dia Brasil; nossos representantes na Câmara Municipal, onde têm assento dois médicos, dois dentistas, um advogado, dois professores, dois operários, um tabelião, um auditor fiscal, um comerciante e um funcionário público, deitarão falação; também os representantes maiores na Assembléia Legislativa, Câmara Federal e Senado estarão a nos defender e... pronto!
Tudo é lucro! Um denguinho a mais, não tem problema. Já estamos ficando chateados com a nossa publicidade sobre linchamento de marginais e etc. e tal. Precisamos mudar a imagem. Não é época de mudanças?
Ao Aedes Egypti tem nome cientifico e internacional, tem verba própria. É pena que ele não pouse por aqui. Ele não gosta de cidade limpa, sem esgoto à flor da terra, sem lixo acumulado, sem depósitos de águas a descoberto. Ele gosta é de sujeira, mesmo. E Jequié, pelo que vê e pelo que se sabe, não é local apropriado para o mosquito da dengue.
Ele já chegou à Feira de Santana. Duvido que venha até aqui. Nosso serviço de saúde pública já deve ter tomado as providencias cabíveis para nos defender.
Ou pensam que não temos representantes parta botar a boca no trombone?
Vem, que tem! Se cuida Aedes Egypti. Mosquitinho metido à besta!
+++++++
(Comentário públicado no Jornal Jequié em Abril de 1987. Mais de vinte anos se passaram e o mosquito da dengue continua dizimando vidas! Pobre Brasil!)

quinta-feira, 13 de março de 2008

HOSANAS À MULHER
04/06/1963

Salve, sublime criatura,
amante virtuosa da natureza,
flor mimosa de todos os jardins,
purpuroso astro dos céus de todos os mundos,
sonho universal de todos os homens,
fonte inesgotável de inspiração!


Eu te saúdo neste frio horrorizante da minha solidão,
embriagado pelo aroma sutil do teu perfume,
perfume que exala do teu colo aveludado
onde Deus, poeta primoroso e escultor inigualável
ergueu duas maçãs tentadoras, onde, agora,
sedento de amor, mato a minha sede!


Dormes!
Olhos lacrados à luz do candelabro
não vês que aqui estou, junto a ti
velando o teu sono, na esperança inquieta
de abraçar-te com enlevo e com paixão.


Salve, Mulher!
Eu te saúdo, oh! magnífica
Porque és a sublime tentação,
a doce pecadora que me converteu a
beijar-te os pés agradecido, por
esta paixão doida que despertastes em mim.


Teu corpo é uma chama de amor,
tocha ardente de desejos
onde os meus lábios se afogam
e onde adormecem os meus beijos.


Desperta, Mulher!
Vem buscar em mim o abrigo para este frio impiedoso!
Vem! Não fiques assim adormecida senão
permanecerei desperto esperando que a serpente
dos teus braços se levante e, num abraço de amor
acerque-se do meu corpo amenizando esta solidão!

Anda! Levanta!
Abre as cortinas dos teus olhos,
sorri o sorriso do perdão e vem!
Vem, mulher! Desperta oh filha de Madalena e
vem me dar este teu corpo quente.

Vem! Por Deus eu te peço.
Acorda e me dê o teu amor
antes que eu volte para a podridão do mundo!
++++
(Escrita em junho de 1963)

quarta-feira, 12 de março de 2008

Comentando o Fato
Jornal Jequié
25 a 31 - -8 - 87


Diante de tantas noticias veiculadas pelos mais diversos meios de comunicação, onde se põe à nu a desonestidade dos homens públicos; ante as denúncias sobre uma comunidade de “marajás” que anda sugando as tetas do erário público; ouvindo e sentindo o fragor da multidão que clama por justiça, oprimida pelo pisotear de uma minoria aboletada no Poder, locupletando-se, como sanguessugas do povo, - lembrei-me de uma crônica escrita por Humberto de Campos, em o seu livro “DA SEARA DE BOOZ”.
“DA SEARA DE BOOZ”, é um livro editado em 1947 e, tem, em as suas páginas, crônicas escritas entre o ano de 1915 a 1916. Todas, pela clareza e leveza do estilo, pela critica velada e inteligente do renomado e imortal escritor, merecem ser sempre lidas e relidas. Uma delas, intitulada ‘ESPONJAS”, transcrevo hoje para os leitores deste Jornal.
Lendo, medite leitor, na perene atualidade das coisas e dos fatos eternos. Vamos à crônica:

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“O homem, descendente do macaco, é, por atavismo, deshonestos. Não há homem que não furte ou que, pelo menos, não sinta tentações de furtar. A questão, segundo se deduz do tratado que sobre a matéria escreveu o padre Vieira, é, apenas, de oportunidade. A harmonia das sociedades depende mesmo, e exatamente, da educação desse vicio, isto é, de concertar a capacidade surripiante de cada individuo com as ambições e com os interesses da desonestidade de todos. O segredo dos bons governos não consiste, pois, em suprimir os deshonestos, porque ninguém luta com a fatalidade; mas em conservar a harmonia do conjunto sem violência permanente sobre os indivíduos , isto é, em assistir ao ato de furtar, consentindo que o individuo exerça a sua função atávica, e providenciando para que essa função seja exercida com o mínimo de prejuízo para a coletividade. Em resumo: a missão dos governos consiste, não em guerrear o roubo, porque o roubo é invencível; mas em reduzir, tanto quanto possível, os efeitos do roubo, nas suas infinitas manifestações”.
“Um governante houve na terra que compreendeu isso com admirável capacidade: o Imperador Vespasiano, que foi, por sua vez, uma das maiores sanguessugas do povo romano. Durante o seu reinado, sabendo que não há homens honestos, nunca deixou de aproveitar os deshonestos, mesmo os mais famosos, e isso sem o menor prejuízo para o erário do império. A esses, dava ele, indistintamente, os cargos públicos em que se lidava com ouro, ou os que rendiam ouro, consentindo que se locupletassem com os dinheiros imperiais; assim, porém, que os sabia ricos, apanhava-os de surpresa, seqüestrava todos os seus haveres, fazendo voltar ao erário, quase sempre acrescido de juros, tudo o que dele havia saído. A esses indivíduos dava o imperador o nome de “esponjas”, que ele, no seu próprio dizer, se encarregava de espremer, quando cheias”.
“O Brasil, como todo aglomerado de homens, possue suas “esponjas”, algumas delas inteiramente repletas. O povo as aponta. O governo as conhece. A Nação as vê, apesar de pletóricas, sugando ouro pelos últimos poros. Não será chegado, porventura, o tempo de espremê-las?”

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O imortal Humberto de Campos nos lega, assim, atualíssima, uma crônica escrita em 1915! Dela, mantivemos a ortografia do Acordo de 1931 entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa, com forme desejos expressos pelos herdeiros do autor.
Jóias como esta, poderão ser lidas ou relidas, oportunamente, pelos nossos leitores. Humberto de Campos, por sua inteligência, não será por nós, deixado nas prateleiras empoeiradas das estantes. E creio mesmo que as suas palavras, reproduzidas com absoluta fidelidade neste espaço, serão, todas, saboreadas, deglutidas e mesmo entendidas, por todos os leitores deste Jornal.
Humberto de Campos Veras, que a cinqüenta e três anos nos deixou, continua conosco nas páginas maravilhosas dos seus livros, na suavidade dos seus versos e na sutileza da sua crítica; na merecida imortalidade da sua inteligência, e, na atualidade dos costumes da Nação. A de hoje, a mesma de ontem. Não, Humberto de Campos? Sim, responderia ele, de certo. Do inatingível da sua imortalidade onde refulge e triunfa, convencendo.
++++
Matéria publicada no Jornal Jequié, agosto de 1987. ATUALÍSSIMA!

segunda-feira, 10 de março de 2008

Comentando o Fato
20 a 26 – 07 - 88
Jornal Jequié

Dizem que o povo tem memória curta. Parece, até, que é verdade.
Determinados “fenômenos” políticos acontecem justamente por essa falta de memorizar fatos. O tempo, inexorável, faz com que seja lançado sob o tapete de nossa lembrança, o que foi bom ou o que foi ruim. Somente quando algo nos marca pessoal ou fisicamente podemos nos recordar, pois ele convive conosco interior ou exteriormente. Dele, pois, não podemos fugir; não podemos esquecer.
No entanto, quando as calamidades acontecem de um modo em geral, ou quando o bem se espalha cobrindo a terra, não nos lembramos nem de um nem do outro, pois fazemos parte dos que sofreram ou se beneficiaram. Não somos um: somos vários. Podemos ser, talvez, um “alguém na multidão”, mas, de qualquer forma, somos mais um no bloco.
A política, por ser uma arte de governar os povos, abrange esse ”tudo”. Nela, o mal ou o bem é distribuído para todos. Todos sofrem ou se alegram com a política e os políticos. Se o político tem capacidade para exercer o cargo que lhe foi confiado, ótimo; se não, pior para todos.
É nesse ponto que a memória do povo se torna curta, revelando-se diminuta. Ninguém se lembra do bem feito ou do mal feito, simplesmente porque tanto um como o outro foram generalizados. Resta, porém, restrito número que jamais se esquece do político; o dos apadrinhados e o dos perseguidos. Mas, de um modo em geral, poucos se recordam, passados alguns anos, que fez ou deixou de fazer o político, quando no exercício de suas funções.
Medito sobre este aspecto, agora que a cidade começa a viver e conviver com a política partidária e ideológica, visando às eleições de novembro.
Vê-se e sabe-se, pelos acordos firmados e conchavos definidos, que o ideal do político é a vitória. Lógica respeitável, não tem dúvidas. Mas, a vitória do político, não significa sempre a vitória do ideal político. É um paradoxo, mas é a verdade.
Quantos existem que durante longos anos desfiam seu rosário idealista, até revolucionários; quantos passam longo tempo defendendo um programa partidário e ideológico e, sem nenhuma satisfação aos seus liderados, amigos ou eleitores, passam de malas e bagagens a engrossar as fileiras daqueles que antes criticavam por não defenderem a mesma idéia, o mesmo programa, o mesmo partido?
Reconheço que ninguém é dono da verdade. Muitas vezes, o que penso ser a verdade, não é a verdade verdadeira. Mas, em reconhecer essas limitações a mudar-se de uma hora para outra de ideal político, vai um bom pedaço.
Aqui em Jequié, a propósito, quantos políticos, cujo tempo de caminhada já varou os decênios, mudaram-se para as fileiras adversárias?
Por ideologia? Por reconhecerem no outro a verdade? Por saberem errados seus antigos propósitos? Não! Mudaram-se simplesmente por interesses pessoas e políticos. Há uma grande diferença entre interesse político e o ideal político. O primeiro é individualista, enquanto o segundo é comunitário.
Então, entre o interesse pessoal e o ideal político, que o segundo vá às favas; entre o interesse próprio e o da comunidade, que essa vá para os quintos do inferno! Que se dane! Que se lixe!
São coisas que acontecem agora mais que nunca, repetidamente, porque, na verdade, o povo tem memória curta; não recorda o passado; anda jogando para debaixo do tapete do esquecimento os fatos que marcaram e marcam o seu tempo. Assim, os políticos crescem em número enquanto diminuem as realizações sociais.
O povo esquece tudo; o chicote e a demagogia; a displicência e a irresponsabilidade; a mentira e o desperdício do erário público; a desorganização e a ganância. Por ser o povo de curta memória, os políticos deitam e rolam. Pois é infelizmente sabido que se não fossem os bestas...
++++++
(Matéria publicada no Jornal Jequié, julho de 1988. Continua atual!)

domingo, 9 de março de 2008

POEMA DOS OLHOS DELA
29/09/1961

Espelho d’alma que reflete amor, paixão, desejos...
São os olhos de minha amada.
Olhos que aquecem a alma do seu pobre enamorado.
Límpidos como a água que cai da cascata borbulhante; claros como a luz do sol em dias de estio.
Profundos, como o oceano onde os meus lábios se afogam; ardentes como fogo; frios como o manto da noite invernal.
Olhos que matam, choram, riem, falam...
Olhos que são meus... que são dela... que são nossos.
Olhos negros, tentadores.
Olhos que exprimem ansiedade, desejos, inquietação...
Olhos que pedem... machucam... maltratam.
Negros, reluzentes, belíssimos. Olhos de mulher adulta.
De menina – moça, de criança...
Olhos de mulher.
Olhos que inspiram a cantar versos, a rabiscar poemas.
Olhos que gritam... olhos que são traidores... olhos fiéis.
Olhos que olham com doçura, olhos que faíscam com rancor.
Olhos que produzem tantos milagres, olhos que acalmam minha dor.
Olhos negros, infinitos, límpidos, belos...
OLHOS QUE SÃO DE MINHA AMADA
Neste poema dos olhos dela...
++++++
Lida na Rádio Bahiana - Programa Carnê Social - setembro de 1961.

sábado, 8 de março de 2008

Comentando o Fato
Jornal Jequié
21 – 01 – 87

Costuma-se dizer que quando Deus fez o mundo, distribuiu, conforme a Sua generosidade, o que queria e o que devia ter cada país que iria formar os continentes. Chegando a vez do Brasil, o Todo-Poderoso suspendeu a mão e o que fosse de ruim, não foi colocado: tufão, maremotos, vulcão, ciclone, etc.etc. Um anjo, pasmo e indignado por tamanha discriminação, indagou do Criador o motivo daquela complacência. Foi quando, pesaroso, falou o Senhor? “Espere e verá a espécie de povo que nele vou colocar”.
Sei que são “causos que passam de pai pra filho. Fico, no entanto, pensando, diante das coisas que só aqui acontecem, se na verdade o Criador do mundo não quis brincar com a gente!
A história nos diz que os nossos colonizadores vieram de Portugal. Mas não foi a pura casta do povo lusitano que abarrotou os navios de Cabral e os demais que aqui aportaram. Dizem que soldados do Rei andaram vasculhando as tavernas, os prostíbulos e cadeias lisboetas para conseguir “voluntários”, formando assim uma marujada disposta ao que desse e viesse. Foi a epopéia dos degredados que ficou na História do Brasil. E deu o que deu!
Tem gente por ai, de um pessimismo exagerado, falando, tristonho, que esse é o país que não deu certo! Teoria mais derrotista, não conheço. Lógico que existem alguns senões, mas, convenhamos, aqui “em se plantando tudo dá”, conforme escreveu o Caminha. E dá, mesmo.
Temos, agora, por exemplo, um “causo” até engraçado. Os deputados federais que não conseguiram o repeteco do mandato receberam uma ajuda de custo de cinqüenta mil cruzados para desocuparem os apartamentos onde passavam pouca parte do seu tempo. Entenderam? Não? Então explico. É o seguinte: cada deputado tem um apartamento que é da Câmara, isto é, do povo. Eles pagam uma ninharia por mês, para não se dizer que é totalmente de graça. Os que não foram reeleitos têm de desocupar o imóvel para que os outros os ocupem. Mas, para que eles saiam do apartamento, a Câmara deu a cada um, a ajuda de cinqüenta milhões antigos. Entenderam, agora? Pode até ser uma lei, eu não sei. Sendo, que seja para todos os inquilinos deste Brasil varonil!
Os outros nobres colegas das Minas Gerais conseguiram, também, uma lei, pela qual todo deputado, após um mandato de quatro anos, poderá perceber uma pensão vitalícia que, hoje, é de vinte mil cruzados mensais. Enquanto isso, Zé da Silva, aquele peão que mora no alto do cemitério, em Jequié-Bahia-Brasil, para se aposentar pelo INPS, tem de trabalhar mais de trinta anos. Isso se não morrer, antes, de inanição.
Será que Deus brincou mesmo com a gente, quando fez este mundo?
Os governadores recém-eleitos não pararam ainda de viajar; como cometas, andam pelos quatro cantos da terra, buscando “recursos e técnicas para administrar seus estados”. Por conta de quem?
Dizem que o General Charles de Gaulle, aquele homenzarrão que presidiu o país da Brigitte Bardot, teria afirmado certa vez que o Brasil não era um país sério. Também, pudera!
Os homens que deveriam representá-lo com mais honestidade, seriedade, galhardia e patriotismo, ficam criando leis em proveito próprio, fazendo mil e uma tramóias e dá no que dá. Depois, querem acabar com a inflação, mortalidade infantil, inanição, enchentes, secas e o “escambau”.
Tem jeito, não! Falaram que o senado Federal é sete vezes menor que a Câmara e, apesar disso, gasta duas vezes mais e tem o dobro de veículos e funcionários que aquela. Pode?
E, alguém se lembra os resultados dos escândalos da Capemi, INPS, Brasilvest, Sulbrasileiro, Coroa Brastel, a Delfin, etc. e tal?
Enquanto isso vamos sair para uma Assembléia Constituinte para a qual quase a metade dos brasileiros não votou, porque não sabe ler nem escrever.
Será que a criação do mundo foi como diz a lenda? Eu não acredito. Deus é Pai e é Amor. Ele pode permitir certas coisas, mas não para sempre. E Ele, perdoe-me, de certo, continua pesaroso...

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(Matéria publicada no Jornal Jequié em janeiro de 1987. Creio que continua bastante atual!)

sexta-feira, 7 de março de 2008

ACRÓSTICO PARA MINHA MÃE
(Escrito em 09 - 03 -99 retornando do cemitério)

Hoje, e já não tem tanto tempo, incrustada como jóia preciosa, deixamo-la sob a lápide fria do cemitério.
Infinita é a vontade de Deus! Não foi pouca a luta do médico amigo, disponível, competente e dedicado. Não foi suficiente o zelo, a dedicação, o interesse, o carinho dos abnegados funcionários do Hospital Geral Prado Valadares, desde o mais simples sem diploma ao mais graduado de currículo profissional invejável. Nada se podia fazer. O relógio de Deus já marcara o tempo e o horário.
Lentamente, como se fosse um lírio imaculadamente branco ou como uma rosa vermelha, uma pétala qualquer, um cisco, uma migalha do universo, a correnteza de Deus levou mamãe, o nosso grande tesouro, para o mar da eternidade!
Diferentemente ao silêncio da noite ou o ruído do dia, das coisas e do tempo, já era um caudal imenso a transportar, no balanço das águas, ao encontro do Imenso Mar, a jóia que ainda tínhamos no momento e agarrados a ela, avarentos do amor, egoístas do querer não queríamos ouvir a voz e o chamado de Deus.
Ainda bem que a voz de Deus fala mais alto e se faz ouvir mesmo que os ouvidos se fechem: “Eu sou o Senhor da Vida. Eu a dou e eu a tiro quando me aprouver”, fazendo-a ecoar pelos corredores do hospital, fazendo-se ouvir por todos os que crêem no Poder Absoluto do Pai Eterno.

Foi-se, devagar, deslizando sobre as águas cristalinas a flor maior do nosso jardim, totalmente entregue à vontade do Condutor da Vida, exalando perfume, aberta como a querer acolher suas desesperadas pétalas que ao seu redor, impotentes, viam-na desaparecendo ao encontro do Grande Mar.
Respirou lentamente o último ar e caiu nos braços do Pai amoroso, que com certeza já esperava por ela, um dos seus anjos na terra que voltava depois de cumprir sua missão de mulher, esposa e mãe.
E agora, quando em acróstico desejo traçar seu nome, uma saudade terrível vem-se aninhar neste coração que pulsa, ainda, cheio do sangue desta valorosa mulher que soube, com toda dignidade, mesmo em momento dos mais difíceis, criar os filhos, ungi-los com a sua mão de santa, abençoando-os em todos os instantes.
Impossível não acreditar nos desígnios de Deus! Ela teria mesmo de voltar à sua terra, para ficar junto aos seus outros filhos que aqui vivem. Os outros que vivem em Vitória do Espírito Santo, já têm papai que para lá se foi há dezessete anos, para ficar com eles.
Repartiu-se, assim, a nossa riqueza. Sem testamento, sem brigas, sem discussões. Papai fica com Lígia, Lilicio, Djalma e Tuninho. Mamãe fica com Ivete, Luiz, Jacira e Miriam. Papai fica com os três filhos homens e uma mulher. Mamãe fica com três filhas mulheres e um homem.
E assim foi feito. Deus quis desta forma. E a Sua vontade sempre haverá de prevalecer entre nós!


Depois, quando acalmarem as ondas das tristezas, por certo que Deus nos orientará se deveremos ou não juntar papai e mamãe sob a mesma lápide. Cremos que já estão juntos diante do trono do Todo-Poderoso e basta essa crença para nos confortar.
Ela, a nossa jóia preciosa, já não está entre nós.


Amparada pelos anjos de Deus, voltou ao seio do Pai, para que fosse ressuscitada e viver a vida eterna, desfrutando das delícias que só os santos podem usufruir.
Só nos resta, agora, mesmos com os olhos molhados de saudades, louvar a Deus por tudo que vivemos, que sofremos, que esperamos, que aceitamos.
Silenciar-nos diante do Poder que tudo pode.
Inclinar-nos respeitosamente frente ao Senhor da Vida.
Suplicar, apenas suplicar, que Ele nos dê a todos o conforto dos que confiam e acreditam na ressurreição.


Basta olharmos o imenso jardim que mamãe e papai cultivaram. Aparício e Hilda não plantaram inutilmente. Plantaram árvores fortes, decididas a enfrentar as intempéries do tempo.
Recolheu, ainda em vida, tanto ele como ela, frutos do que plantaram e regaram com tanto amor e coragem.
Irrigou como se fosse seiva, nas pequeninas plantas que hoje são árvores frondosas, o sangue da decência, da dignidade, da honra, do respeito, do amor fraterno, do temor a Deus, da confiança no Pai Eterno, na devoção à Mãe querida.
Tudo temos. Não precisamos de nada. Temos a certeza de que fomos amados por um amor sem medidas, extremado, de papai e de mamãe. Temos nome, família. Os filhos que geram filhos. Os netos que correm pelos corredores da casa. Os esposos e as esposas que vieram aumentar a nossa fortaleza.
Olhando, como faço agora para o retrato de papai e de mamãe, ouso pensar que ambos já ouviram do Senhor da Vida: “Vinde, benditos do meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu, e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim”. E papai e mamãe, que soubemos e Deus mais que nós, fizeram tudo isso, já se encontram no seio do Pai vivendo a vida eterna.

(Luiz, em 09.03.99 – 11 horas).
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(Postada para atender pedido de Sandrinha, a filha de Zazae)

quinta-feira, 6 de março de 2008

Comentando o Fato
O Velho Pião
Jornal Jequié



Por onde anda meu pião de jacarandá, torneado pelo velho Lau após tantos dias de espera, de ansiedade, cravejado com percevejo no castelo, que era o terror da Rua Nova?
A minha raia de taliscas de tabocas, papel de seda vermelho, rabo cheio de bandas de gilete e lambuzado de breu e vidros moídos que colocava em pandemônio as raias adversárias da Rua da Lagoa?
Minha patinete de duas rodas, sem freio e sem rolimãs, feita de tábuas de caixão de gás, a mais veloz da ladeira do hospital?
Quem sabe por onde andam minhas bolas de gude, de vidros coloridos, invencíveis no jogo de triângulo, acostumadas a tirar piolho nas da garotada do bairro Joaquim Romão?
Minha primeira calça comprida, feita de mescla, costurada por dona Iayá, aquela velha magrinha da Rua Rio de Contas, cujos bolsos rasos permitiram que meu primeiro cigarro fosse descoberto?
A vela da primeira comunhão, por onde anda?
Quem sabe onde estão Pé de Paêta, Boca de Couro, Zoião e Liro Oco, pivetes daquele tempo, que colocavam em sobressalto a meninada do Campo do América?
A minha Crestomatia e minha tabuada, que fizeram com elas?
Ah! “não sei porque a gente cresce se não sai da gente tantas lembranças”!
Hoje, de cabelos ralos e já encanecidos pelo tempo, olha a meninada que já não sabe brincar, cujos dias estão presos à televisão, assistindo “O Incrível Hulk” desmantelar com um só golpe poderosos adversários! Onde andam os filmes de Flask Gordon no planeta Marte, a volta na próxima dos seriados de Jonh Mac Brow, da Polícia Montada e de Rin Tin Tin?
Não sei se a criançada canta os hinos que abriam nossos dias no Castro Alves! “As nossas praias brancas onde as ondas vão beijar / lembram os homens bravos que vivem a lutar”.
Será que rezam na fila, quando começam a entrar na sala de aula? E o hino de Senhora Santana: “Mestra extraordinária, fostes a primeira / Sois a padroeira da instrução primária”?
A sabatina ainda existe? E ainda se declama nos dois de julho, a data maior da Bahia?
O tempo, inexoravelmente, vai levando de roldão os sonhos vividos. Ficam as saudades e a vontade de rever coisas e lugares, pessoas e fatos...
A garotada de hoje está mais barulhenta. Não brinca de chicotinho queimado e nem sabe mais fazer curral de bois, de ossos buscados nos açougues...
Tudo passa, nessa vida. Ficam as recordações, manchadas de saudades.
Ah! quão bom seria que a garotada de hoje brincasse como antigamente, sem violência. O bodoque ao invés da espingarda de ar comprimido; o pião, ao invés dos jogos eletrônicos; a bola de gude, feita de vidro, ao invés da feita de aço; a patinete comum, ao invés das de hoje, de rolimãs, barulhentas e perigosas.
Da janela vejo passar a mocidade, e tenho vontade de regressar no tempo, para os momentos mais inesquecíveis da minha vida...
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(Publicada no Jornal Jequié três décadas atrás)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Comentando o Fato
Jornal Jequié
10 a 16 - 11 - 87


Muito tem se falado sobre os nossos cemitérios, principalmente o São João Batista. E pouca atenção, ou quase nenhuma foi dispensada aos nossos “campos santos”, pelo poder público municipal.
Temos visto e ouvido, constantemente, reclamos da população com referencia à falta de espaço para sepultar os mortos, em quase todos os nossos cemitérios. No São João Batista, é, verdadeiramente difícil encontrar uma “vaga”. Não existe mais local disponível! Está sobrecarregado o nosso “campo santo”.
Aliás, os cronistas, poetas, repórteres, comentaristas, radialista – os homens de imprensa, - por fim, têm escrito e falado muito sobre o assunto. Um comentário a mais, como este, somar-se-á apenas aos muitos já escritos, mas, certeza temos que, como os demais, não surtirá efeito diante da insensibilidade do poder público municipal.
Também, pudera! Para que construir ou ampliar cemitérios? Os mortos não votam! Os que choram as mortes dos entes queridos esquecem-se diante da dor, que foi o Prefeito fulano de tal que construiu ou ampliou o “campo santo”! Então, por que gastar dinheiro com obras que não podem ser inauguradas com discursos, foguetórios, bandas de música e trio elétrico?
Fica, pois, difícil sensibilizar a autoridade competente para o problema que está se tornando insolúvel.
Por uma dessas coincidências, o dia de finados, agora, semana passada, passeio-o em Eunapólis, sul do Estado, levando á sua última morada um cunhado, irmão de minha esposa. O cemitério de Eunapólis, como me disse um filósofo, “dá gosto ser enterrado”. Limpo, arborizado, projetado com esmero e com carinho. Fica afastado e muito do centro do maior povoado do mundo, atravessa – para quem mora no centro de Eunapólis, - um trecho da BR-101. Tudo isso; a distancia, o perigo da travessia de uma rodovia de tráfego intenso, não fez pensar muito ao poder público do Município de Santa Cruz de Cabrália. O cemitério era necessário, portanto, construir era preciso! E foi construído!
Em o nosso caso, o cemitério São João Batista está com suas reservas de espaço esgotadas. Somente os proprietários de mausoléus ou de sete palmos de terra podem, sem muita preocupação, esperar o dia do juízo final. Mas, para quem não tem reserva nenhuma, a preocupação é uma constante! Não para ele, porque depois de morto, tudo acabou; mas, para os que ficam, envolvidos por mil problemas, desde a despesa médica e hospitalar, se for o caso, até o encaixotamento e transporte do corpo. E, depois de tudo isso, ainda tem de se procurar um lugar para sepultar o defunto, que, por não poder esperar demais, tem de ser entregue a terra e ao pó de onde saiu o mais depressa possível!
Que a Prefeitura de Jequié pense no assunto. Claro que morto não vota; já passou esse tempo! Mas, os vivos, que votam, por certo que não haverão de esquecer que foi o prefeito fulano de tal que construiu o cemitério!
Não vamos fazer como Sucupira, que tinha cemitério, mas não possuía defunto. O nosso caso é, lamentavelmente, ao contrário; tem defunto demais para poucos cemitérios!
Com a palavra, pois, o Poder Público do Município de Jequié, Estado da Bahia, Brasil!
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Matéria publicada no Jornal Jequié em novembro de 1987 ( Está atualíssima!)

terça-feira, 4 de março de 2008

INFERNO N´ALMA
14 -12 -61

Hoje sinto correr celeremente em meu corpo aquele desejo ardente de te ver.
Parece que minh´alma se esvoaça, buscando-te, querendo-te!
Neste silencio torturante do meu quarto, no vai-e-vem constante da lâmpada sacudida pela brisa ligeira que penetra pela janela aberta, sinto calor e – oh! Contraste hediondo, - sinto frio.
Cansado, exausto de pensar, sofrer e querer, não consigo conciliar o sono.
“Eu sinto em mim o borbulhar do gênio”, mas não “vejo um futuro radiante”. É como se fosse um dia ou uma noite sem madrugada, porque a madrugada não vem. Para que as madrugadas se o pássaro não sai do ninho?
Estou preso pelos grilhões dos teus olhos!
Tuas mãos ainda percorrem docemente os meus cabelos, acariciando estes olhos que teimam em não chorar!
Teus beijos – ah! Teus beijos. - ainda os sinto queimando-me a carne.
Hoje é o meu grande dia!
Dia da espera, da saudade e da dor!
Quanto desejo morrer!
“Eis-me aqui poeta triste das tristes noites! Meu corpo é frio e dos meus braços não desprende mais calor! Vens, que eu sou a tua amante. Dar-te-ei todo o afeto que agora te falta. Vem escriba do sangue! Vem eu sou a Morte”!
E a janela, escandalosamente bate! Eu sinto que meu quarto, meu mundo se transformou.
Não! Não quero morrer!
A mocidade vibra comigo nas noites enluaradas, nas orgias loucas,
Não! Não quero morrer!
O futuro me sorri e eu vejo os meus passos ressoando em um mundo mais feliz. Não! Não quero morrer!
Eu preciso rever a quem adoro. Não me tentes. Hoje eu não te quero! Vai-te!
Fosses tu como a esta quem adoro; se os teus beijos tivessem a doçura dos seus; se teus olhos ferissem ao me olhar; se teus braços me acalentassem na dor; se teus lábios fossem fonte de desejos; eu iria contigo!
Abraçaria teu corpo frio e na orgia de sangue e nos poemas de dor, eu ficaria ao teu lado. Beberia o néctar dos teus lábios e pronunciando o nome “dela”, diria adeus ao mundo hipócrita e vil, escreveria meus últimos versos... E morreria.
És tão diferente!
És frio e ela é calor!
És negra como a noite sem luz e ela – ah! Ela – branca, alva como um deus.
Vai-te, ó morte!
Eu ficarei sofrendo e amando.
Sorrindo e chorando.
Eternamente. Por ela!
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Crônica escrita para o programa Carnê Social - Rádio Bahiana - dezembro de 1961.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Comentando o Fato
Jornal Jequié
06 a 14 -12 - 87

Fala-se muito em trocas de Ministros. Em a nossa aldeia, comentou-se com invulgar insistência a saída do Delegado Regional de Polícia. Todos os cargos de confiança tiveram a troca da “guarda”. Olhando tudo isso, lembrei de uma crônica escrita por Humberto de Campos. Como costumo cumprir minhas promessas e tinha prometido transcrever algumas delas quando surgissem oportunidades, esta, que tem por título UM CONTO DE MARK TWAIN (História para Ministros), está publicada em o livro “Da Seara de Booz”. Vamos à crônica, mantida a sua ortografia original:
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"Quando Mustafá, comerciante em Bassora, transpôs as escuras portas da morte, o seu filho Acmed, satisfazendo o último desejo paterno, tomou de duzentas libras e partiu pelo país a entregá-las metade ao homem mais perverso e metade ao sujeito mais tolo de toda a Turquia.
O primeiro foi encontrado sem custo: era Sulimão, cheique de Guza, cuja população por unanimidade, o apontou como o péssimo dos muçulmanos.
O segundo, estava mais longe. Penetrava Acmed as primeiras ruas de Constantinopla quando viu um cortejo. Eram cavalos arreados de ouro e prata, janízaros faiscantes nas suas armaduras, cimitarras coruscantes ao sol e, no meio de todo esse fausto, montando soberbo cavalo ajaezado, um velho de longa barba, festejado pelo entusiasmo da multidão.
O filho de Mustafá acompanhou o séqüito e parou, com ele, em certa praça, onde havia um estrado, no centro do qual se via, espetada uma lança, a cabeça de um homem.
- Que quer dizer isto? – perguntou Acmed a um janízaro.
- É a posse de Ali-bel, o novo grão-vizir.
- E aquela cabeça?
- É a do seu antecessor, mandado degolar ontem pelo sultão; todo grão-vizir, por via de regra, acaba degolado, sendo a cabeça exposta aos olhos do povo, que a apupa durante a posse do seu sucessor.
No dia seguinte, após alguns incidentes secundários, Ali-bel recebia no seu palácio de Constantinopla as cem libras turcas do testamento de Mustafá”.
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Que os nossos leitores, (meus, e do Humberto de Campos), possam se deliciar com a genialidade do imortal escritor, cujas crônicas, escritas a mais de meio século, continuam vivas em a nossa atualidade.
Pois que, os homens, por sua vaidade, egoísmo, prepotência, orgulho e maldade, não mudam, jamais.
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Matéria publicada no Jornal Jequié. Dezembro de 1987. ( Parece-me atual!)

domingo, 2 de março de 2008

Canto de Página
19 a 25-11-87
Jornal Sudoeste

A viagem de recreio que os talentosos e brilhantes vereadores desta Cidade empreenderam, semana passada, à exuberante capital potiguar, deixou estupefatos os seus representados; pelas ruas e praças, atordoados ainda pela sonoridade que a digressão proporcionou, não conseguiram entender o porquê dessa estonteante excursão pelas terras, mares, praias e bares do Rio Grande do Norte.
Nunca se viu uma representação tão numerosa de nossa edilidade deslocar-se para um Congresso. Das duas, uma: ou está existindo muito interesse em aprender, ouvir, discutir, opinar sobre questões municipais e nacionais, ou os que têm assento em a nossa colenda Câmara, em fim de mandato, já não estão querendo nada com as suas obrigações e deveres. Não é possível, que para se tomar parte de um Congresso, seja necessária a presença da quase totalidade de nossos Vereadores. Dos treze que ocupam as cadeiras do Legislativo, APENAS dois deixaram de compor a luzida comitiva.
O que mais impressiona e faz com que se duvide da intenção de uma participação congressual, são as noticias veiculadas pelos órgãos de imprensa locais, que afirmam terem nossos deputados municipais levado, cada qual, pessoas de sua família, parentes e até mesmo amigos no chamado “comboio da alegria.”.
É de se lastimar, profundamente, que diante da situação vexatória porque passa nosso Município, sofrendo as penas impostas por problemas climáticos, políticos e administrativos, possam nossos ilustres e inteligentes edis fretar um ônibus especial, para passarem um fim de semana em Natal, em cujo Congresso, conforme noticia a imprensa sulina, quase não houve presença, de fato.
Pelo que se sabe, a viagem custou aos cofres públicos mais de meio milhão de cruzados! Uma representação escolhida pelos próprios vereadores e, entre eles, os mais capazes, poderia e muito bem levar a voz de nosso Legislativo ao Congresso de Natal.
Qual a necessidade da presença de ONZE Vereadores? E dos parentes? E de funcionários da Câmara? E de amigos? À luz do que se sabe, foi uma excursão alegre e ruidosa, às expensas do povo, que, agora, mais que nunca, já não tem para onde apelar, quando se sentir esmagado sob o peso das mazelas administrativas.
Não será preciso, pára não ferir sensibilidades e nem corar faces mais moralistas, detalhes pormenorizados. Bastam que nos sejam oferecidos documentos comprobatórios dos pronunciamentos, das intervenções de nossos representantes, naquele Congresso. Sendo as provas postas sobre a mesa, restam ainda explicações de quem foi quem nesta embaixada, cuja despesa serviria para erguer uma casa para um desvalido, ou para matar a fome de dezenas e dezenas de conterrâneos.
A Câmara tem, portanto, o dever de prestar contas dos seus atos. Não será possível mais suportar o peso dessas “viagens de recreio”, elaborada cuidadosamente por um poder que tem, por precípua definição no regime democrático, de fiscalizar e zelar pelo patrimônio do povo.
Esperemos, pois, com ansiedade, os esclarecimentos desse egrégio Poder, já que se falam, pelas esquinas, que para o ano o passeio será pelas “calientes” cidades do país de Alfonsin!...
*********
(Matéria publicada no Jornal Sudoeste em novembro de 87)
INSTANTES DE AMOR
16/03/1961

É um inferno a nossa vida!
São brigas constantes, desentendimentos mútuos, frases incompreendidas, murmúrios que são torrentes de palavras desconexas. É um inferno a nossa vida.
Os dias transcorrem normalmente; - amanhece, e eu a vejo sempre, todas as manhãs; anoitece, e eu a olho sempre todas a tardes.
Entretanto, os olhos já não vêm com as mesmas emoções. Pressentimos que nos amamos, mas não nos compreendemos...
É-me tão triste escrever tantas coisas sobre o nosso amor...
Parece-me que o coração se dilata a cada palavra que deixa escrever sobre o papel.
Eu a amo!
Não sei porque, então, não me chego aos seus braços e aos seus beijos que tanto desejo!
Quem sabe se é o orgulho que me faz sofrer tanto assim?
E o meu pensamento busca no vácuo a solução deste problema de minh’alma. É inútil sofrer quando poderemos ser felizes, disse alguém.
Amanhã voltarei aos seus carinhos e deixarei molhar os meus lábios naquela boca que adoro e desejo.
Assim, quebrarei o meu orgulho, mas alimentarei o meu amor...
Eu meu quarto, sozinho, com os meus pensamentos, eu sofro.
A noite avança ao encontro da madrugada e não consigo dormir.
Transborda o meu cérebro de recordações e beijo o seu retrato adorado que trago nas mãos frente aos olhos.
Se ela me olha com os olhos que não são meus, se me fala com uma voz que não é minha, eu penso que já não me ama...
E ela, também me vendo indiferente, pensativo, melancólico, cria dentro de si o mostro da desconfiança e nós brigamos...
A nossa vida é um inferno!
Voltaremos a sorrir, eu sei disto...
Voltaremos a cantar e amar porque eu a adoro e ela sabe, como ela me ama também...

sábado, 1 de março de 2008

Comentando o Fato
Jornal Jequié
06 a 12 -05 - 87

Descia a rua calmamente. Não se importava com os carros que subiam, buzinando ruidosamente. Nem ao menos se incomodou com o bando de garotos que, ao sair da escola o encontrou em o seu passeio matinal. Calmamente descia a rua, olhando para um lado e para o outro, parando por alguns instantes, voltando a seguir ao seu lento passear.
Era o dono da rua e, se não o fosse, parecia sê-lo. Pouco se lhe dava algumas pedrinhas lançadas por dois garotões fardados com a farda do colégio! Eram estudantes e, como tais, pareceu-lhes comum o proceder.
Achegou-se para um lado da rua onde existia um depósito de lixo. Conhecedor do local e do cardápio, freguês assíduo, demorou-se ali preciosos minutos, bisbilhotando, revirando o conteúdo daquele depósito já meio enferrujado e furado. Despreocupado, apanhou algumas coisas que lhe serviam de alimentando, abandonando o local.
Voltou ao meio da rua, continuando o seu desfile, Foi-se aproximando do primeiro canteiro onde se encontra encravado um pedestal e sobre esse um busto do atual Senador da República e ex-governador da Bahia. A meninada – a essa altura mais numerosa, - brincava com ele, correndo ao seu lado, batendo-lhe com galhos das árvores por ela mesma quebrados.
No canteiro, sofreu terrível decepção: ali não havia nada que lhe pudesse amenizar o cansaço, a fome e sede. Apenas o pedestal e sobre esse, o busto. Nada mais.
Ficou olhando os carros em o seu desfile diário. Sacudiu a cabeça diante do buzinar azucrinante dos motoristas nervosos e mal-educados. Desceu do canteiro, sem antes deixar de olhar o busto entronizado e, calmamente, voltou ao meio da rua, agora subindo. Antes, ele descia.
Chamaram-lhe pelo nome e ele nem ligou. Jogaram-lhe pedras e ele nem apressou no passo. Calmamente voltou ao depósito de lixo anteriormente visitado e vasculhou-o mais devagar.
Comeu de tudo. Depois de saciar a fome, ainda mastigando voltou ao meio da rua e subiu, com certeza, para a sua casa.
Foi isso pelo menos o que deduzi, vendo aquele burro velho, ferido no lombo, pernas trôpegas, olhos cansados. Ele é um passeador contumaz da minha rua. É pena que os meninos das escolas ainda não aprenderam a ama-lo e os motoristas, respeita-lo
Bastam-lhe nos maus tratos que lhe aplica o dono, pois se assim não fosse, não estaria com fome, ferido no lombo, comendo lixo. Burro velho, puxador de carroça, cansado de tanto trabalho, deve merecer um lixo melhor, mais aburguesado, mais nutritivo. O da minha rua é lixo de proletário, sem vitaminas nem proteínas. Já não lhe bastou à decepção de não encontrar gramas e flores no canteiro do senador?
Gosto de vê-lo andando na rua. Calmo, quase sonolento, com ares de quem não liga para nada. Também, pudera! Importar com o amanhã, se o futuro do burro de carroça é continuar a comer lixo generosamente exposto nas ruas? Preocupar-se com o amanhã se a sua sina é servir de alvo para as pedras dos meninos das escolas e, depois, sem condições de trabalho, ser transformado em salsicha?
Por isso ele nem se incomoda com o buzinar dos motoristas que passam tirando “fino”. Estão com pressa? Que passem por cima...
Melhor para ele. Não sentirá mais fome e sede, não precisará mais recorrer ao lixo pobre da minha rua que, além de pobre é fedorento!
O que poderá preocupa-lo – se é que burro tem preocupação, - é ser preso pelos prepostos da Prefeitura e ser jogado no “curral do conselho”. Ali, coitado, nem lixo tem para comer.
Enquanto o burro retorna a casa, os meninos da escola passam carregando os galhos das árvores por eles quebrados. Galhos das poucas árvores da minha rua!
E, comigo, fica o questionamento: Qual o mais irracional? O burro velho que come lixo ou o menino da escola que quebra árvore e come pão?
E, assim pensando, começo a sentir saudades de uma porca velha que sempre acompanhada de seus leitõezinhos fazia, também, seu “Cooper” por minha rua. Será que já virou lingüiça?
Na passarela da rua onde moro, ela, a porca, tinha lugar de destaque por suas exuberantes tetas que balançavam acompanhando o seu gingado, cadenciado e dengoso e até mesmo sensual.
Mas, isso é assunto para outro comentário...
A QUEM AMO
17/05/1961

É para você que é tudo que possuo, de riquezas, de afeto, de carinho, de paixão e de prazer, que cantarei hosanas ao amor puro e sincero que cresceu em mim e se alimenta com os raios quentes e acalentadores do seu olhar!
É para você, jóia de minha existência, que o meu coração palpita e o sangue flui mais quente em minhas veias;
É para você, tesouro de minh’alma, que os meus olhos enxergam mais e vêem o horizonte mais límpido e futuroso;
É para você, somente para você que adoro, as minhas preces, os meus sonhos, os meus ideais, minhas serenatas, minha idolatria;
É para você, criatura santa e imaculada que volto os meus pensamentos às vezes turvos e cheios de desanimo, quando a luta pela vida se torna mais ferrenha.
Hoje, é, mais um nosso dia!
Veja se o sol não é mais sol e se as flores não têm mais perfume?
Escute o cantar do pássaro cativo e medita bem quanto é mais suave e belo neste dia...
A natureza é a amante silenciosa dos poetas, é verdade!
Se não o fosse, porque então emprestaria o seu sol o azul do seu céu e o cantar dos seus pássaros para, numa harmonia de graça e beleza, misturar céu, sol e música para brindar ao meu amor, ao nosso amor, neste dia que é o nosso dia? Oh! não sei porque me faltam rimas para os meus versos nem melodias para as minhas canções!
Eu queria tanto falar deste amor bruto e sincero, fiel e doido que você fez nascer em mim...
É para você, minha doce namorada, meus poemas humildes, tão pobres, mas que lhe levam todo o desvelo do meu coração.
Se eu pudesse...
17-11-60

Se eu pudesse te dizer, querida, quanto minh’alma te venera e o meu coração te quer;
Se eu pudesse dedilhar neste teclado as frases que expressassem a paixão que me devora;
Se eu pudesse te falar no ouvido, só para nós dois todo o meu amor;
Se eu pudesse ao te olhar, deixar transparecer o ardor do meu desejo;
Se eu pudesse realizar o que sonho, o que almejo;
Se eu pudesse construir um mundo que só coubesse nós dois;
Se eu pudesse ter forças para num só abraço te enlaçar;
Se eu pudesse te beijar todas as vezes que quero;
Se eu pudesse incutir em tu’alma a verdade do meu querer;
Se eu pudesse, quando morrer, morrer em teus braços;
Se eu pudesse, ao expirar, beber o néctar dos teus lábios;
Se eu pudesse, nas noites de frio, buscar o calor do teu corpo;
Se eu pudesse nas noites insones dormir com teus olhos;
Se eu pudesse nos dias tristes da vida, sorrir com teu sorriso;
Se eu pudesse, quando as forças me faltam na luta que travo pelo futuro, sentir teu sangue fluir em minhas veias;
Se eu pudesse realizar o que quero, o que penso e o que sonho;
Eu seria um homem feliz! Abraçaria o mundo e gritava-lhe a minha alegria! Beijaria os cravos e amaria as rosas!
Bem sei, querida, que me queres. Tenho certeza que me amas.
Entretanto, o meu amor é tão grande que esconde o teu.
E faz-me duvidar de ti. Do teu querer. Da tua amizade.
É a força da paixão que me obriga,
Como me obrigou a fazer isto...