Comentando o Fato
Jornal Jequié
25 a 31 - -8 - 87
Diante de tantas noticias veiculadas pelos mais diversos meios de comunicação, onde se põe à nu a desonestidade dos homens públicos; ante as denúncias sobre uma comunidade de “marajás” que anda sugando as tetas do erário público; ouvindo e sentindo o fragor da multidão que clama por justiça, oprimida pelo pisotear de uma minoria aboletada no Poder, locupletando-se, como sanguessugas do povo, - lembrei-me de uma crônica escrita por Humberto de Campos, em o seu livro “DA SEARA DE BOOZ”.
“DA SEARA DE BOOZ”, é um livro editado em 1947 e, tem, em as suas páginas, crônicas escritas entre o ano de 1915 a 1916. Todas, pela clareza e leveza do estilo, pela critica velada e inteligente do renomado e imortal escritor, merecem ser sempre lidas e relidas. Uma delas, intitulada ‘ESPONJAS”, transcrevo hoje para os leitores deste Jornal.
Lendo, medite leitor, na perene atualidade das coisas e dos fatos eternos. Vamos à crônica:
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“O homem, descendente do macaco, é, por atavismo, deshonestos. Não há homem que não furte ou que, pelo menos, não sinta tentações de furtar. A questão, segundo se deduz do tratado que sobre a matéria escreveu o padre Vieira, é, apenas, de oportunidade. A harmonia das sociedades depende mesmo, e exatamente, da educação desse vicio, isto é, de concertar a capacidade surripiante de cada individuo com as ambições e com os interesses da desonestidade de todos. O segredo dos bons governos não consiste, pois, em suprimir os deshonestos, porque ninguém luta com a fatalidade; mas em conservar a harmonia do conjunto sem violência permanente sobre os indivíduos , isto é, em assistir ao ato de furtar, consentindo que o individuo exerça a sua função atávica, e providenciando para que essa função seja exercida com o mínimo de prejuízo para a coletividade. Em resumo: a missão dos governos consiste, não em guerrear o roubo, porque o roubo é invencível; mas em reduzir, tanto quanto possível, os efeitos do roubo, nas suas infinitas manifestações”.
“Um governante houve na terra que compreendeu isso com admirável capacidade: o Imperador Vespasiano, que foi, por sua vez, uma das maiores sanguessugas do povo romano. Durante o seu reinado, sabendo que não há homens honestos, nunca deixou de aproveitar os deshonestos, mesmo os mais famosos, e isso sem o menor prejuízo para o erário do império. A esses, dava ele, indistintamente, os cargos públicos em que se lidava com ouro, ou os que rendiam ouro, consentindo que se locupletassem com os dinheiros imperiais; assim, porém, que os sabia ricos, apanhava-os de surpresa, seqüestrava todos os seus haveres, fazendo voltar ao erário, quase sempre acrescido de juros, tudo o que dele havia saído. A esses indivíduos dava o imperador o nome de “esponjas”, que ele, no seu próprio dizer, se encarregava de espremer, quando cheias”.
“O Brasil, como todo aglomerado de homens, possue suas “esponjas”, algumas delas inteiramente repletas. O povo as aponta. O governo as conhece. A Nação as vê, apesar de pletóricas, sugando ouro pelos últimos poros. Não será chegado, porventura, o tempo de espremê-las?”
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O imortal Humberto de Campos nos lega, assim, atualíssima, uma crônica escrita em 1915! Dela, mantivemos a ortografia do Acordo de 1931 entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa, com forme desejos expressos pelos herdeiros do autor.
Jóias como esta, poderão ser lidas ou relidas, oportunamente, pelos nossos leitores. Humberto de Campos, por sua inteligência, não será por nós, deixado nas prateleiras empoeiradas das estantes. E creio mesmo que as suas palavras, reproduzidas com absoluta fidelidade neste espaço, serão, todas, saboreadas, deglutidas e mesmo entendidas, por todos os leitores deste Jornal.
Humberto de Campos Veras, que a cinqüenta e três anos nos deixou, continua conosco nas páginas maravilhosas dos seus livros, na suavidade dos seus versos e na sutileza da sua crítica; na merecida imortalidade da sua inteligência, e, na atualidade dos costumes da Nação. A de hoje, a mesma de ontem. Não, Humberto de Campos? Sim, responderia ele, de certo. Do inatingível da sua imortalidade onde refulge e triunfa, convencendo.
Jornal Jequié
25 a 31 - -8 - 87
Diante de tantas noticias veiculadas pelos mais diversos meios de comunicação, onde se põe à nu a desonestidade dos homens públicos; ante as denúncias sobre uma comunidade de “marajás” que anda sugando as tetas do erário público; ouvindo e sentindo o fragor da multidão que clama por justiça, oprimida pelo pisotear de uma minoria aboletada no Poder, locupletando-se, como sanguessugas do povo, - lembrei-me de uma crônica escrita por Humberto de Campos, em o seu livro “DA SEARA DE BOOZ”.
“DA SEARA DE BOOZ”, é um livro editado em 1947 e, tem, em as suas páginas, crônicas escritas entre o ano de 1915 a 1916. Todas, pela clareza e leveza do estilo, pela critica velada e inteligente do renomado e imortal escritor, merecem ser sempre lidas e relidas. Uma delas, intitulada ‘ESPONJAS”, transcrevo hoje para os leitores deste Jornal.
Lendo, medite leitor, na perene atualidade das coisas e dos fatos eternos. Vamos à crônica:
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“O homem, descendente do macaco, é, por atavismo, deshonestos. Não há homem que não furte ou que, pelo menos, não sinta tentações de furtar. A questão, segundo se deduz do tratado que sobre a matéria escreveu o padre Vieira, é, apenas, de oportunidade. A harmonia das sociedades depende mesmo, e exatamente, da educação desse vicio, isto é, de concertar a capacidade surripiante de cada individuo com as ambições e com os interesses da desonestidade de todos. O segredo dos bons governos não consiste, pois, em suprimir os deshonestos, porque ninguém luta com a fatalidade; mas em conservar a harmonia do conjunto sem violência permanente sobre os indivíduos , isto é, em assistir ao ato de furtar, consentindo que o individuo exerça a sua função atávica, e providenciando para que essa função seja exercida com o mínimo de prejuízo para a coletividade. Em resumo: a missão dos governos consiste, não em guerrear o roubo, porque o roubo é invencível; mas em reduzir, tanto quanto possível, os efeitos do roubo, nas suas infinitas manifestações”.
“Um governante houve na terra que compreendeu isso com admirável capacidade: o Imperador Vespasiano, que foi, por sua vez, uma das maiores sanguessugas do povo romano. Durante o seu reinado, sabendo que não há homens honestos, nunca deixou de aproveitar os deshonestos, mesmo os mais famosos, e isso sem o menor prejuízo para o erário do império. A esses, dava ele, indistintamente, os cargos públicos em que se lidava com ouro, ou os que rendiam ouro, consentindo que se locupletassem com os dinheiros imperiais; assim, porém, que os sabia ricos, apanhava-os de surpresa, seqüestrava todos os seus haveres, fazendo voltar ao erário, quase sempre acrescido de juros, tudo o que dele havia saído. A esses indivíduos dava o imperador o nome de “esponjas”, que ele, no seu próprio dizer, se encarregava de espremer, quando cheias”.
“O Brasil, como todo aglomerado de homens, possue suas “esponjas”, algumas delas inteiramente repletas. O povo as aponta. O governo as conhece. A Nação as vê, apesar de pletóricas, sugando ouro pelos últimos poros. Não será chegado, porventura, o tempo de espremê-las?”
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O imortal Humberto de Campos nos lega, assim, atualíssima, uma crônica escrita em 1915! Dela, mantivemos a ortografia do Acordo de 1931 entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa, com forme desejos expressos pelos herdeiros do autor.
Jóias como esta, poderão ser lidas ou relidas, oportunamente, pelos nossos leitores. Humberto de Campos, por sua inteligência, não será por nós, deixado nas prateleiras empoeiradas das estantes. E creio mesmo que as suas palavras, reproduzidas com absoluta fidelidade neste espaço, serão, todas, saboreadas, deglutidas e mesmo entendidas, por todos os leitores deste Jornal.
Humberto de Campos Veras, que a cinqüenta e três anos nos deixou, continua conosco nas páginas maravilhosas dos seus livros, na suavidade dos seus versos e na sutileza da sua crítica; na merecida imortalidade da sua inteligência, e, na atualidade dos costumes da Nação. A de hoje, a mesma de ontem. Não, Humberto de Campos? Sim, responderia ele, de certo. Do inatingível da sua imortalidade onde refulge e triunfa, convencendo.
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Matéria publicada no Jornal Jequié, agosto de 1987. ATUALÍSSIMA!
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