Canto de Página
19 a 25-11-87
Jornal Sudoeste
19 a 25-11-87
Jornal Sudoeste
A viagem de recreio que os talentosos e brilhantes vereadores desta Cidade empreenderam, semana passada, à exuberante capital potiguar, deixou estupefatos os seus representados; pelas ruas e praças, atordoados ainda pela sonoridade que a digressão proporcionou, não conseguiram entender o porquê dessa estonteante excursão pelas terras, mares, praias e bares do Rio Grande do Norte.
Nunca se viu uma representação tão numerosa de nossa edilidade deslocar-se para um Congresso. Das duas, uma: ou está existindo muito interesse em aprender, ouvir, discutir, opinar sobre questões municipais e nacionais, ou os que têm assento em a nossa colenda Câmara, em fim de mandato, já não estão querendo nada com as suas obrigações e deveres. Não é possível, que para se tomar parte de um Congresso, seja necessária a presença da quase totalidade de nossos Vereadores. Dos treze que ocupam as cadeiras do Legislativo, APENAS dois deixaram de compor a luzida comitiva.
O que mais impressiona e faz com que se duvide da intenção de uma participação congressual, são as noticias veiculadas pelos órgãos de imprensa locais, que afirmam terem nossos deputados municipais levado, cada qual, pessoas de sua família, parentes e até mesmo amigos no chamado “comboio da alegria.”.
É de se lastimar, profundamente, que diante da situação vexatória porque passa nosso Município, sofrendo as penas impostas por problemas climáticos, políticos e administrativos, possam nossos ilustres e inteligentes edis fretar um ônibus especial, para passarem um fim de semana em Natal, em cujo Congresso, conforme noticia a imprensa sulina, quase não houve presença, de fato.
Pelo que se sabe, a viagem custou aos cofres públicos mais de meio milhão de cruzados! Uma representação escolhida pelos próprios vereadores e, entre eles, os mais capazes, poderia e muito bem levar a voz de nosso Legislativo ao Congresso de Natal.
Qual a necessidade da presença de ONZE Vereadores? E dos parentes? E de funcionários da Câmara? E de amigos? À luz do que se sabe, foi uma excursão alegre e ruidosa, às expensas do povo, que, agora, mais que nunca, já não tem para onde apelar, quando se sentir esmagado sob o peso das mazelas administrativas.
Não será preciso, pára não ferir sensibilidades e nem corar faces mais moralistas, detalhes pormenorizados. Bastam que nos sejam oferecidos documentos comprobatórios dos pronunciamentos, das intervenções de nossos representantes, naquele Congresso. Sendo as provas postas sobre a mesa, restam ainda explicações de quem foi quem nesta embaixada, cuja despesa serviria para erguer uma casa para um desvalido, ou para matar a fome de dezenas e dezenas de conterrâneos.
A Câmara tem, portanto, o dever de prestar contas dos seus atos. Não será possível mais suportar o peso dessas “viagens de recreio”, elaborada cuidadosamente por um poder que tem, por precípua definição no regime democrático, de fiscalizar e zelar pelo patrimônio do povo.
Esperemos, pois, com ansiedade, os esclarecimentos desse egrégio Poder, já que se falam, pelas esquinas, que para o ano o passeio será pelas “calientes” cidades do país de Alfonsin!...
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(Matéria publicada no Jornal Sudoeste em novembro de 87)
(Matéria publicada no Jornal Sudoeste em novembro de 87)
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