Comentando o Fato
20 a 26 – 07 - 88
Jornal Jequié
Dizem que o povo tem memória curta. Parece, até, que é verdade.
Determinados “fenômenos” políticos acontecem justamente por essa falta de memorizar fatos. O tempo, inexorável, faz com que seja lançado sob o tapete de nossa lembrança, o que foi bom ou o que foi ruim. Somente quando algo nos marca pessoal ou fisicamente podemos nos recordar, pois ele convive conosco interior ou exteriormente. Dele, pois, não podemos fugir; não podemos esquecer.
No entanto, quando as calamidades acontecem de um modo em geral, ou quando o bem se espalha cobrindo a terra, não nos lembramos nem de um nem do outro, pois fazemos parte dos que sofreram ou se beneficiaram. Não somos um: somos vários. Podemos ser, talvez, um “alguém na multidão”, mas, de qualquer forma, somos mais um no bloco.
A política, por ser uma arte de governar os povos, abrange esse ”tudo”. Nela, o mal ou o bem é distribuído para todos. Todos sofrem ou se alegram com a política e os políticos. Se o político tem capacidade para exercer o cargo que lhe foi confiado, ótimo; se não, pior para todos.
É nesse ponto que a memória do povo se torna curta, revelando-se diminuta. Ninguém se lembra do bem feito ou do mal feito, simplesmente porque tanto um como o outro foram generalizados. Resta, porém, restrito número que jamais se esquece do político; o dos apadrinhados e o dos perseguidos. Mas, de um modo em geral, poucos se recordam, passados alguns anos, que fez ou deixou de fazer o político, quando no exercício de suas funções.
Medito sobre este aspecto, agora que a cidade começa a viver e conviver com a política partidária e ideológica, visando às eleições de novembro.
Vê-se e sabe-se, pelos acordos firmados e conchavos definidos, que o ideal do político é a vitória. Lógica respeitável, não tem dúvidas. Mas, a vitória do político, não significa sempre a vitória do ideal político. É um paradoxo, mas é a verdade.
Quantos existem que durante longos anos desfiam seu rosário idealista, até revolucionários; quantos passam longo tempo defendendo um programa partidário e ideológico e, sem nenhuma satisfação aos seus liderados, amigos ou eleitores, passam de malas e bagagens a engrossar as fileiras daqueles que antes criticavam por não defenderem a mesma idéia, o mesmo programa, o mesmo partido?
Reconheço que ninguém é dono da verdade. Muitas vezes, o que penso ser a verdade, não é a verdade verdadeira. Mas, em reconhecer essas limitações a mudar-se de uma hora para outra de ideal político, vai um bom pedaço.
Aqui em Jequié, a propósito, quantos políticos, cujo tempo de caminhada já varou os decênios, mudaram-se para as fileiras adversárias?
Por ideologia? Por reconhecerem no outro a verdade? Por saberem errados seus antigos propósitos? Não! Mudaram-se simplesmente por interesses pessoas e políticos. Há uma grande diferença entre interesse político e o ideal político. O primeiro é individualista, enquanto o segundo é comunitário.
Então, entre o interesse pessoal e o ideal político, que o segundo vá às favas; entre o interesse próprio e o da comunidade, que essa vá para os quintos do inferno! Que se dane! Que se lixe!
São coisas que acontecem agora mais que nunca, repetidamente, porque, na verdade, o povo tem memória curta; não recorda o passado; anda jogando para debaixo do tapete do esquecimento os fatos que marcaram e marcam o seu tempo. Assim, os políticos crescem em número enquanto diminuem as realizações sociais.
O povo esquece tudo; o chicote e a demagogia; a displicência e a irresponsabilidade; a mentira e o desperdício do erário público; a desorganização e a ganância. Por ser o povo de curta memória, os políticos deitam e rolam. Pois é infelizmente sabido que se não fossem os bestas...
20 a 26 – 07 - 88
Jornal Jequié
Dizem que o povo tem memória curta. Parece, até, que é verdade.
Determinados “fenômenos” políticos acontecem justamente por essa falta de memorizar fatos. O tempo, inexorável, faz com que seja lançado sob o tapete de nossa lembrança, o que foi bom ou o que foi ruim. Somente quando algo nos marca pessoal ou fisicamente podemos nos recordar, pois ele convive conosco interior ou exteriormente. Dele, pois, não podemos fugir; não podemos esquecer.
No entanto, quando as calamidades acontecem de um modo em geral, ou quando o bem se espalha cobrindo a terra, não nos lembramos nem de um nem do outro, pois fazemos parte dos que sofreram ou se beneficiaram. Não somos um: somos vários. Podemos ser, talvez, um “alguém na multidão”, mas, de qualquer forma, somos mais um no bloco.
A política, por ser uma arte de governar os povos, abrange esse ”tudo”. Nela, o mal ou o bem é distribuído para todos. Todos sofrem ou se alegram com a política e os políticos. Se o político tem capacidade para exercer o cargo que lhe foi confiado, ótimo; se não, pior para todos.
É nesse ponto que a memória do povo se torna curta, revelando-se diminuta. Ninguém se lembra do bem feito ou do mal feito, simplesmente porque tanto um como o outro foram generalizados. Resta, porém, restrito número que jamais se esquece do político; o dos apadrinhados e o dos perseguidos. Mas, de um modo em geral, poucos se recordam, passados alguns anos, que fez ou deixou de fazer o político, quando no exercício de suas funções.
Medito sobre este aspecto, agora que a cidade começa a viver e conviver com a política partidária e ideológica, visando às eleições de novembro.
Vê-se e sabe-se, pelos acordos firmados e conchavos definidos, que o ideal do político é a vitória. Lógica respeitável, não tem dúvidas. Mas, a vitória do político, não significa sempre a vitória do ideal político. É um paradoxo, mas é a verdade.
Quantos existem que durante longos anos desfiam seu rosário idealista, até revolucionários; quantos passam longo tempo defendendo um programa partidário e ideológico e, sem nenhuma satisfação aos seus liderados, amigos ou eleitores, passam de malas e bagagens a engrossar as fileiras daqueles que antes criticavam por não defenderem a mesma idéia, o mesmo programa, o mesmo partido?
Reconheço que ninguém é dono da verdade. Muitas vezes, o que penso ser a verdade, não é a verdade verdadeira. Mas, em reconhecer essas limitações a mudar-se de uma hora para outra de ideal político, vai um bom pedaço.
Aqui em Jequié, a propósito, quantos políticos, cujo tempo de caminhada já varou os decênios, mudaram-se para as fileiras adversárias?
Por ideologia? Por reconhecerem no outro a verdade? Por saberem errados seus antigos propósitos? Não! Mudaram-se simplesmente por interesses pessoas e políticos. Há uma grande diferença entre interesse político e o ideal político. O primeiro é individualista, enquanto o segundo é comunitário.
Então, entre o interesse pessoal e o ideal político, que o segundo vá às favas; entre o interesse próprio e o da comunidade, que essa vá para os quintos do inferno! Que se dane! Que se lixe!
São coisas que acontecem agora mais que nunca, repetidamente, porque, na verdade, o povo tem memória curta; não recorda o passado; anda jogando para debaixo do tapete do esquecimento os fatos que marcaram e marcam o seu tempo. Assim, os políticos crescem em número enquanto diminuem as realizações sociais.
O povo esquece tudo; o chicote e a demagogia; a displicência e a irresponsabilidade; a mentira e o desperdício do erário público; a desorganização e a ganância. Por ser o povo de curta memória, os políticos deitam e rolam. Pois é infelizmente sabido que se não fossem os bestas...
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(Matéria publicada no Jornal Jequié, julho de 1988. Continua atual!)
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