quarta-feira, 5 de março de 2008

Comentando o Fato
Jornal Jequié
10 a 16 - 11 - 87


Muito tem se falado sobre os nossos cemitérios, principalmente o São João Batista. E pouca atenção, ou quase nenhuma foi dispensada aos nossos “campos santos”, pelo poder público municipal.
Temos visto e ouvido, constantemente, reclamos da população com referencia à falta de espaço para sepultar os mortos, em quase todos os nossos cemitérios. No São João Batista, é, verdadeiramente difícil encontrar uma “vaga”. Não existe mais local disponível! Está sobrecarregado o nosso “campo santo”.
Aliás, os cronistas, poetas, repórteres, comentaristas, radialista – os homens de imprensa, - por fim, têm escrito e falado muito sobre o assunto. Um comentário a mais, como este, somar-se-á apenas aos muitos já escritos, mas, certeza temos que, como os demais, não surtirá efeito diante da insensibilidade do poder público municipal.
Também, pudera! Para que construir ou ampliar cemitérios? Os mortos não votam! Os que choram as mortes dos entes queridos esquecem-se diante da dor, que foi o Prefeito fulano de tal que construiu ou ampliou o “campo santo”! Então, por que gastar dinheiro com obras que não podem ser inauguradas com discursos, foguetórios, bandas de música e trio elétrico?
Fica, pois, difícil sensibilizar a autoridade competente para o problema que está se tornando insolúvel.
Por uma dessas coincidências, o dia de finados, agora, semana passada, passeio-o em Eunapólis, sul do Estado, levando á sua última morada um cunhado, irmão de minha esposa. O cemitério de Eunapólis, como me disse um filósofo, “dá gosto ser enterrado”. Limpo, arborizado, projetado com esmero e com carinho. Fica afastado e muito do centro do maior povoado do mundo, atravessa – para quem mora no centro de Eunapólis, - um trecho da BR-101. Tudo isso; a distancia, o perigo da travessia de uma rodovia de tráfego intenso, não fez pensar muito ao poder público do Município de Santa Cruz de Cabrália. O cemitério era necessário, portanto, construir era preciso! E foi construído!
Em o nosso caso, o cemitério São João Batista está com suas reservas de espaço esgotadas. Somente os proprietários de mausoléus ou de sete palmos de terra podem, sem muita preocupação, esperar o dia do juízo final. Mas, para quem não tem reserva nenhuma, a preocupação é uma constante! Não para ele, porque depois de morto, tudo acabou; mas, para os que ficam, envolvidos por mil problemas, desde a despesa médica e hospitalar, se for o caso, até o encaixotamento e transporte do corpo. E, depois de tudo isso, ainda tem de se procurar um lugar para sepultar o defunto, que, por não poder esperar demais, tem de ser entregue a terra e ao pó de onde saiu o mais depressa possível!
Que a Prefeitura de Jequié pense no assunto. Claro que morto não vota; já passou esse tempo! Mas, os vivos, que votam, por certo que não haverão de esquecer que foi o prefeito fulano de tal que construiu o cemitério!
Não vamos fazer como Sucupira, que tinha cemitério, mas não possuía defunto. O nosso caso é, lamentavelmente, ao contrário; tem defunto demais para poucos cemitérios!
Com a palavra, pois, o Poder Público do Município de Jequié, Estado da Bahia, Brasil!
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Matéria publicada no Jornal Jequié em novembro de 1987 ( Está atualíssima!)

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