domingo, 2 de março de 2008

INSTANTES DE AMOR
16/03/1961

É um inferno a nossa vida!
São brigas constantes, desentendimentos mútuos, frases incompreendidas, murmúrios que são torrentes de palavras desconexas. É um inferno a nossa vida.
Os dias transcorrem normalmente; - amanhece, e eu a vejo sempre, todas as manhãs; anoitece, e eu a olho sempre todas a tardes.
Entretanto, os olhos já não vêm com as mesmas emoções. Pressentimos que nos amamos, mas não nos compreendemos...
É-me tão triste escrever tantas coisas sobre o nosso amor...
Parece-me que o coração se dilata a cada palavra que deixa escrever sobre o papel.
Eu a amo!
Não sei porque, então, não me chego aos seus braços e aos seus beijos que tanto desejo!
Quem sabe se é o orgulho que me faz sofrer tanto assim?
E o meu pensamento busca no vácuo a solução deste problema de minh’alma. É inútil sofrer quando poderemos ser felizes, disse alguém.
Amanhã voltarei aos seus carinhos e deixarei molhar os meus lábios naquela boca que adoro e desejo.
Assim, quebrarei o meu orgulho, mas alimentarei o meu amor...
Eu meu quarto, sozinho, com os meus pensamentos, eu sofro.
A noite avança ao encontro da madrugada e não consigo dormir.
Transborda o meu cérebro de recordações e beijo o seu retrato adorado que trago nas mãos frente aos olhos.
Se ela me olha com os olhos que não são meus, se me fala com uma voz que não é minha, eu penso que já não me ama...
E ela, também me vendo indiferente, pensativo, melancólico, cria dentro de si o mostro da desconfiança e nós brigamos...
A nossa vida é um inferno!
Voltaremos a sorrir, eu sei disto...
Voltaremos a cantar e amar porque eu a adoro e ela sabe, como ela me ama também...

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