ACRÓSTICO PARA MINHA MÃE
(Escrito em 09 - 03 -99 retornando do cemitério)
(Escrito em 09 - 03 -99 retornando do cemitério)
Hoje, e já não tem tanto tempo, incrustada como jóia preciosa, deixamo-la sob a lápide fria do cemitério.
Infinita é a vontade de Deus! Não foi pouca a luta do médico amigo, disponível, competente e dedicado. Não foi suficiente o zelo, a dedicação, o interesse, o carinho dos abnegados funcionários do Hospital Geral Prado Valadares, desde o mais simples sem diploma ao mais graduado de currículo profissional invejável. Nada se podia fazer. O relógio de Deus já marcara o tempo e o horário.
Lentamente, como se fosse um lírio imaculadamente branco ou como uma rosa vermelha, uma pétala qualquer, um cisco, uma migalha do universo, a correnteza de Deus levou mamãe, o nosso grande tesouro, para o mar da eternidade!
Diferentemente ao silêncio da noite ou o ruído do dia, das coisas e do tempo, já era um caudal imenso a transportar, no balanço das águas, ao encontro do Imenso Mar, a jóia que ainda tínhamos no momento e agarrados a ela, avarentos do amor, egoístas do querer não queríamos ouvir a voz e o chamado de Deus.
Ainda bem que a voz de Deus fala mais alto e se faz ouvir mesmo que os ouvidos se fechem: “Eu sou o Senhor da Vida. Eu a dou e eu a tiro quando me aprouver”, fazendo-a ecoar pelos corredores do hospital, fazendo-se ouvir por todos os que crêem no Poder Absoluto do Pai Eterno.
Foi-se, devagar, deslizando sobre as águas cristalinas a flor maior do nosso jardim, totalmente entregue à vontade do Condutor da Vida, exalando perfume, aberta como a querer acolher suas desesperadas pétalas que ao seu redor, impotentes, viam-na desaparecendo ao encontro do Grande Mar.
Respirou lentamente o último ar e caiu nos braços do Pai amoroso, que com certeza já esperava por ela, um dos seus anjos na terra que voltava depois de cumprir sua missão de mulher, esposa e mãe.
E agora, quando em acróstico desejo traçar seu nome, uma saudade terrível vem-se aninhar neste coração que pulsa, ainda, cheio do sangue desta valorosa mulher que soube, com toda dignidade, mesmo em momento dos mais difíceis, criar os filhos, ungi-los com a sua mão de santa, abençoando-os em todos os instantes.
Impossível não acreditar nos desígnios de Deus! Ela teria mesmo de voltar à sua terra, para ficar junto aos seus outros filhos que aqui vivem. Os outros que vivem em Vitória do Espírito Santo, já têm papai que para lá se foi há dezessete anos, para ficar com eles.
Repartiu-se, assim, a nossa riqueza. Sem testamento, sem brigas, sem discussões. Papai fica com Lígia, Lilicio, Djalma e Tuninho. Mamãe fica com Ivete, Luiz, Jacira e Miriam. Papai fica com os três filhos homens e uma mulher. Mamãe fica com três filhas mulheres e um homem.
E assim foi feito. Deus quis desta forma. E a Sua vontade sempre haverá de prevalecer entre nós!
Depois, quando acalmarem as ondas das tristezas, por certo que Deus nos orientará se deveremos ou não juntar papai e mamãe sob a mesma lápide. Cremos que já estão juntos diante do trono do Todo-Poderoso e basta essa crença para nos confortar.
Ela, a nossa jóia preciosa, já não está entre nós.
Amparada pelos anjos de Deus, voltou ao seio do Pai, para que fosse ressuscitada e viver a vida eterna, desfrutando das delícias que só os santos podem usufruir.
Só nos resta, agora, mesmos com os olhos molhados de saudades, louvar a Deus por tudo que vivemos, que sofremos, que esperamos, que aceitamos.
Silenciar-nos diante do Poder que tudo pode.
Inclinar-nos respeitosamente frente ao Senhor da Vida.
Suplicar, apenas suplicar, que Ele nos dê a todos o conforto dos que confiam e acreditam na ressurreição.
Basta olharmos o imenso jardim que mamãe e papai cultivaram. Aparício e Hilda não plantaram inutilmente. Plantaram árvores fortes, decididas a enfrentar as intempéries do tempo.
Recolheu, ainda em vida, tanto ele como ela, frutos do que plantaram e regaram com tanto amor e coragem.
Irrigou como se fosse seiva, nas pequeninas plantas que hoje são árvores frondosas, o sangue da decência, da dignidade, da honra, do respeito, do amor fraterno, do temor a Deus, da confiança no Pai Eterno, na devoção à Mãe querida.
Tudo temos. Não precisamos de nada. Temos a certeza de que fomos amados por um amor sem medidas, extremado, de papai e de mamãe. Temos nome, família. Os filhos que geram filhos. Os netos que correm pelos corredores da casa. Os esposos e as esposas que vieram aumentar a nossa fortaleza.
Olhando, como faço agora para o retrato de papai e de mamãe, ouso pensar que ambos já ouviram do Senhor da Vida: “Vinde, benditos do meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu, e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim”. E papai e mamãe, que soubemos e Deus mais que nós, fizeram tudo isso, já se encontram no seio do Pai vivendo a vida eterna.
(Luiz, em 09.03.99 – 11 horas).
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(Postada para atender pedido de Sandrinha, a filha de Zazae)
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