Comentando o Fato
Jornal Jequié
08 a 14 – 04 – 87
Falam e escrevem muito sobre o Aedes Egypti, o tal mosquito que transmite a dengue. Não sei se o paciente acometido desta virose é chamado de dengoso. Sei, isto sim, que o tal mosquito deve ser muito mais perigoso do que a nossa tão conhecida muriçoca. Esta apenasmente incomoda com o seu ruído e suas alfinetadas. Mas, diga-se de passagem, não faz muito mal. Agora, o tal do Aedes Egypti é de lascar. Quando aparece, movimenta imprensa falada, escrita, televisada, autoridades, povo, poderes executivo, legislativo, judiciário e eclesiástico! Ninguém fica de braços cruzados quando o mosquito da dengue bota a cara de fora, isto, o ferrão de fora.
Agora mesmo, uma cidade na Bahia é manchete na televisão e nos jornais por causa do tal mosquito. Imagino se aparecer aqui o Aedes. Não sou letrado em epidemiologia, não sou sanitarista ou coisa parecida. Mas, qualquer um, do Mobral à Universidade sabe que mosquito, seja Aedes ou pernilongo, muriçoca ou maruim precisa de água estagnada para desovar. Quer dizer com isto, que tendo sujeira, imundície, qualquer mosquito de meia tijela tem campo para proliferação.
Aqui em Jequié, ele vai se “campar”. Não vai ter nem para o começo. Uma cidade limpa, sem esgoto à flor da terra, com todos os reservatórios de água nas residências hermeticamente lacrados, sem mato próximo às zonas habitacionais, sem lixo, com um sistema de saúde pública dos mais modernos, com postos de saúde espalhados por todos os quarteirões, não é aqui, em Jequié, que esse Aedes vai querer pousar!
Aliás, por falar nisso, lembrei-me: tem um buraco no calçamento defronte a Unilar, ao lado do Edifício Rotary. Tem gente, por falta de conhecimento, dizendo que uma rede de esgoto sanitário passa por ali. Ora, vejam só! Uma cidade que tem a sede do Pólo Regional da Embasa, que tem Prefeito formado em farmácia, logo obrigatoriamente bioquímico, que tem a sede da 13ª Diretoria Regional de Saúde do Estado, vai deixar, por mais de 15 dias, um buraco aberto por onde passa um esgoto? Tenha santa paciência!
Só pode ser mesmo critica de demagogos políticos. Aquilo, pelo que me parece, é o inicio do metrô subterrâneo que ligará em futuro próximo o bairro Jequiezinho com o centro da cidade!
Então, não há porque tanta preocupação com a epidemia de dengue aqui em Jequié. Os terrenos baldios estão devidamente limpos, sem lixo algum; as barracas instaladas na Praça Ruy Barbosa, que servem cerveja, refrigerantes, sucos e similares, têm sanitários higienicamente construídos, e não jogam detrito algum no meio da rua. Ou será que pensam, leitores e povão, a Prefeitura iria permitir que barracas ficassem eternamente na praça sem tais requisitos? Bem, fiquemos por aqui. Da feira livre, ah, nem é bom falar!
Não perco um segundo do meu sono preocupado com a dengue. Durmo a noite inteira. Sei que a saúde pública de Jequié está protegida, pois conta com todos os recursos necessários. Então, porque preocupar-me?
A SUCAM, que tem um posto aqui na cidade, outro dia estava para ser desativada e transferida para Vitória da Conquista. Mas, não foi. Deve ter verbas e mais verbas para combater o tal Aedes Egypti.
Ademais, dormir de ventilador ligado (não estamos racionando energia), sob mosquiteiros e corpo untado de repelente (Autan, é legal), não é mesmo confortante e restaurador?
Porque nos preocuparmos com a dengue, esta epidemia tola que anda por aí? E, ainda tem mais: se aparecer por aqui um Aedes meio baratinado e iniciar sua proliferação, o que vai dar de repórteres de televisão e jornal e rádio na cidade, não está no Gibi! Melhora o comércio, muita gente vai deitar falação.
Autoridades sairão no Bom Dia Brasil; nossos representantes na Câmara Municipal, onde têm assento dois médicos, dois dentistas, um advogado, dois professores, dois operários, um tabelião, um auditor fiscal, um comerciante e um funcionário público, deitarão falação; também os representantes maiores na Assembléia Legislativa, Câmara Federal e Senado estarão a nos defender e... pronto!
Tudo é lucro! Um denguinho a mais, não tem problema. Já estamos ficando chateados com a nossa publicidade sobre linchamento de marginais e etc. e tal. Precisamos mudar a imagem. Não é época de mudanças?
Ao Aedes Egypti tem nome cientifico e internacional, tem verba própria. É pena que ele não pouse por aqui. Ele não gosta de cidade limpa, sem esgoto à flor da terra, sem lixo acumulado, sem depósitos de águas a descoberto. Ele gosta é de sujeira, mesmo. E Jequié, pelo que vê e pelo que se sabe, não é local apropriado para o mosquito da dengue.
Ele já chegou à Feira de Santana. Duvido que venha até aqui. Nosso serviço de saúde pública já deve ter tomado as providencias cabíveis para nos defender.
Ou pensam que não temos representantes parta botar a boca no trombone?
Vem, que tem! Se cuida Aedes Egypti. Mosquitinho metido à besta!
Jornal Jequié
08 a 14 – 04 – 87
Falam e escrevem muito sobre o Aedes Egypti, o tal mosquito que transmite a dengue. Não sei se o paciente acometido desta virose é chamado de dengoso. Sei, isto sim, que o tal mosquito deve ser muito mais perigoso do que a nossa tão conhecida muriçoca. Esta apenasmente incomoda com o seu ruído e suas alfinetadas. Mas, diga-se de passagem, não faz muito mal. Agora, o tal do Aedes Egypti é de lascar. Quando aparece, movimenta imprensa falada, escrita, televisada, autoridades, povo, poderes executivo, legislativo, judiciário e eclesiástico! Ninguém fica de braços cruzados quando o mosquito da dengue bota a cara de fora, isto, o ferrão de fora.
Agora mesmo, uma cidade na Bahia é manchete na televisão e nos jornais por causa do tal mosquito. Imagino se aparecer aqui o Aedes. Não sou letrado em epidemiologia, não sou sanitarista ou coisa parecida. Mas, qualquer um, do Mobral à Universidade sabe que mosquito, seja Aedes ou pernilongo, muriçoca ou maruim precisa de água estagnada para desovar. Quer dizer com isto, que tendo sujeira, imundície, qualquer mosquito de meia tijela tem campo para proliferação.
Aqui em Jequié, ele vai se “campar”. Não vai ter nem para o começo. Uma cidade limpa, sem esgoto à flor da terra, com todos os reservatórios de água nas residências hermeticamente lacrados, sem mato próximo às zonas habitacionais, sem lixo, com um sistema de saúde pública dos mais modernos, com postos de saúde espalhados por todos os quarteirões, não é aqui, em Jequié, que esse Aedes vai querer pousar!
Aliás, por falar nisso, lembrei-me: tem um buraco no calçamento defronte a Unilar, ao lado do Edifício Rotary. Tem gente, por falta de conhecimento, dizendo que uma rede de esgoto sanitário passa por ali. Ora, vejam só! Uma cidade que tem a sede do Pólo Regional da Embasa, que tem Prefeito formado em farmácia, logo obrigatoriamente bioquímico, que tem a sede da 13ª Diretoria Regional de Saúde do Estado, vai deixar, por mais de 15 dias, um buraco aberto por onde passa um esgoto? Tenha santa paciência!
Só pode ser mesmo critica de demagogos políticos. Aquilo, pelo que me parece, é o inicio do metrô subterrâneo que ligará em futuro próximo o bairro Jequiezinho com o centro da cidade!
Então, não há porque tanta preocupação com a epidemia de dengue aqui em Jequié. Os terrenos baldios estão devidamente limpos, sem lixo algum; as barracas instaladas na Praça Ruy Barbosa, que servem cerveja, refrigerantes, sucos e similares, têm sanitários higienicamente construídos, e não jogam detrito algum no meio da rua. Ou será que pensam, leitores e povão, a Prefeitura iria permitir que barracas ficassem eternamente na praça sem tais requisitos? Bem, fiquemos por aqui. Da feira livre, ah, nem é bom falar!
Não perco um segundo do meu sono preocupado com a dengue. Durmo a noite inteira. Sei que a saúde pública de Jequié está protegida, pois conta com todos os recursos necessários. Então, porque preocupar-me?
A SUCAM, que tem um posto aqui na cidade, outro dia estava para ser desativada e transferida para Vitória da Conquista. Mas, não foi. Deve ter verbas e mais verbas para combater o tal Aedes Egypti.
Ademais, dormir de ventilador ligado (não estamos racionando energia), sob mosquiteiros e corpo untado de repelente (Autan, é legal), não é mesmo confortante e restaurador?
Porque nos preocuparmos com a dengue, esta epidemia tola que anda por aí? E, ainda tem mais: se aparecer por aqui um Aedes meio baratinado e iniciar sua proliferação, o que vai dar de repórteres de televisão e jornal e rádio na cidade, não está no Gibi! Melhora o comércio, muita gente vai deitar falação.
Autoridades sairão no Bom Dia Brasil; nossos representantes na Câmara Municipal, onde têm assento dois médicos, dois dentistas, um advogado, dois professores, dois operários, um tabelião, um auditor fiscal, um comerciante e um funcionário público, deitarão falação; também os representantes maiores na Assembléia Legislativa, Câmara Federal e Senado estarão a nos defender e... pronto!
Tudo é lucro! Um denguinho a mais, não tem problema. Já estamos ficando chateados com a nossa publicidade sobre linchamento de marginais e etc. e tal. Precisamos mudar a imagem. Não é época de mudanças?
Ao Aedes Egypti tem nome cientifico e internacional, tem verba própria. É pena que ele não pouse por aqui. Ele não gosta de cidade limpa, sem esgoto à flor da terra, sem lixo acumulado, sem depósitos de águas a descoberto. Ele gosta é de sujeira, mesmo. E Jequié, pelo que vê e pelo que se sabe, não é local apropriado para o mosquito da dengue.
Ele já chegou à Feira de Santana. Duvido que venha até aqui. Nosso serviço de saúde pública já deve ter tomado as providencias cabíveis para nos defender.
Ou pensam que não temos representantes parta botar a boca no trombone?
Vem, que tem! Se cuida Aedes Egypti. Mosquitinho metido à besta!
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(Comentário públicado no Jornal Jequié em Abril de 1987. Mais de vinte anos se passaram e o mosquito da dengue continua dizimando vidas! Pobre Brasil!)
Um comentário:
Qualquer jornal da atualidade poderia fazer este mesmo comentário. Doi saber que os problemas do Brasil nunca são resolvidos e que, como na querra, vidas são sacrificadas. No Brasil além de nos procuparmos com o tráfico, a violencia, o desemprego, etc ainda temos um mosquito pra nos tirar o sonho e às vezes a vida.
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