Comentando o Fato
O Velho Pião
Jornal Jequié
Por onde anda meu pião de jacarandá, torneado pelo velho Lau após tantos dias de espera, de ansiedade, cravejado com percevejo no castelo, que era o terror da Rua Nova?
A minha raia de taliscas de tabocas, papel de seda vermelho, rabo cheio de bandas de gilete e lambuzado de breu e vidros moídos que colocava em pandemônio as raias adversárias da Rua da Lagoa?
Minha patinete de duas rodas, sem freio e sem rolimãs, feita de tábuas de caixão de gás, a mais veloz da ladeira do hospital?
Quem sabe por onde andam minhas bolas de gude, de vidros coloridos, invencíveis no jogo de triângulo, acostumadas a tirar piolho nas da garotada do bairro Joaquim Romão?
Minha primeira calça comprida, feita de mescla, costurada por dona Iayá, aquela velha magrinha da Rua Rio de Contas, cujos bolsos rasos permitiram que meu primeiro cigarro fosse descoberto?
A vela da primeira comunhão, por onde anda?
Quem sabe onde estão Pé de Paêta, Boca de Couro, Zoião e Liro Oco, pivetes daquele tempo, que colocavam em sobressalto a meninada do Campo do América?
A minha Crestomatia e minha tabuada, que fizeram com elas?
Ah! “não sei porque a gente cresce se não sai da gente tantas lembranças”!
Hoje, de cabelos ralos e já encanecidos pelo tempo, olha a meninada que já não sabe brincar, cujos dias estão presos à televisão, assistindo “O Incrível Hulk” desmantelar com um só golpe poderosos adversários! Onde andam os filmes de Flask Gordon no planeta Marte, a volta na próxima dos seriados de Jonh Mac Brow, da Polícia Montada e de Rin Tin Tin?
Não sei se a criançada canta os hinos que abriam nossos dias no Castro Alves! “As nossas praias brancas onde as ondas vão beijar / lembram os homens bravos que vivem a lutar”.
Será que rezam na fila, quando começam a entrar na sala de aula? E o hino de Senhora Santana: “Mestra extraordinária, fostes a primeira / Sois a padroeira da instrução primária”?
A sabatina ainda existe? E ainda se declama nos dois de julho, a data maior da Bahia?
O tempo, inexoravelmente, vai levando de roldão os sonhos vividos. Ficam as saudades e a vontade de rever coisas e lugares, pessoas e fatos...
A garotada de hoje está mais barulhenta. Não brinca de chicotinho queimado e nem sabe mais fazer curral de bois, de ossos buscados nos açougues...
Tudo passa, nessa vida. Ficam as recordações, manchadas de saudades.
Ah! quão bom seria que a garotada de hoje brincasse como antigamente, sem violência. O bodoque ao invés da espingarda de ar comprimido; o pião, ao invés dos jogos eletrônicos; a bola de gude, feita de vidro, ao invés da feita de aço; a patinete comum, ao invés das de hoje, de rolimãs, barulhentas e perigosas.
Da janela vejo passar a mocidade, e tenho vontade de regressar no tempo, para os momentos mais inesquecíveis da minha vida...
O Velho Pião
Jornal Jequié
Por onde anda meu pião de jacarandá, torneado pelo velho Lau após tantos dias de espera, de ansiedade, cravejado com percevejo no castelo, que era o terror da Rua Nova?
A minha raia de taliscas de tabocas, papel de seda vermelho, rabo cheio de bandas de gilete e lambuzado de breu e vidros moídos que colocava em pandemônio as raias adversárias da Rua da Lagoa?
Minha patinete de duas rodas, sem freio e sem rolimãs, feita de tábuas de caixão de gás, a mais veloz da ladeira do hospital?
Quem sabe por onde andam minhas bolas de gude, de vidros coloridos, invencíveis no jogo de triângulo, acostumadas a tirar piolho nas da garotada do bairro Joaquim Romão?
Minha primeira calça comprida, feita de mescla, costurada por dona Iayá, aquela velha magrinha da Rua Rio de Contas, cujos bolsos rasos permitiram que meu primeiro cigarro fosse descoberto?
A vela da primeira comunhão, por onde anda?
Quem sabe onde estão Pé de Paêta, Boca de Couro, Zoião e Liro Oco, pivetes daquele tempo, que colocavam em sobressalto a meninada do Campo do América?
A minha Crestomatia e minha tabuada, que fizeram com elas?
Ah! “não sei porque a gente cresce se não sai da gente tantas lembranças”!
Hoje, de cabelos ralos e já encanecidos pelo tempo, olha a meninada que já não sabe brincar, cujos dias estão presos à televisão, assistindo “O Incrível Hulk” desmantelar com um só golpe poderosos adversários! Onde andam os filmes de Flask Gordon no planeta Marte, a volta na próxima dos seriados de Jonh Mac Brow, da Polícia Montada e de Rin Tin Tin?
Não sei se a criançada canta os hinos que abriam nossos dias no Castro Alves! “As nossas praias brancas onde as ondas vão beijar / lembram os homens bravos que vivem a lutar”.
Será que rezam na fila, quando começam a entrar na sala de aula? E o hino de Senhora Santana: “Mestra extraordinária, fostes a primeira / Sois a padroeira da instrução primária”?
A sabatina ainda existe? E ainda se declama nos dois de julho, a data maior da Bahia?
O tempo, inexoravelmente, vai levando de roldão os sonhos vividos. Ficam as saudades e a vontade de rever coisas e lugares, pessoas e fatos...
A garotada de hoje está mais barulhenta. Não brinca de chicotinho queimado e nem sabe mais fazer curral de bois, de ossos buscados nos açougues...
Tudo passa, nessa vida. Ficam as recordações, manchadas de saudades.
Ah! quão bom seria que a garotada de hoje brincasse como antigamente, sem violência. O bodoque ao invés da espingarda de ar comprimido; o pião, ao invés dos jogos eletrônicos; a bola de gude, feita de vidro, ao invés da feita de aço; a patinete comum, ao invés das de hoje, de rolimãs, barulhentas e perigosas.
Da janela vejo passar a mocidade, e tenho vontade de regressar no tempo, para os momentos mais inesquecíveis da minha vida...
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(Publicada no Jornal Jequié três décadas atrás)
Um comentário:
É uma pena que as pessoas cresçam e o tempo mude!
Seria ótimo se as crianças continuassem ingênuas.
Se houvesse mais tempo pra sentarmos próximo a uma fogueira e ouvirmos histórias.
O velho pião de jacarandá tornou-se lembrança..
E é lamentável vê-lo sendo substituído por drogas e armas de fogo!
Mas, no fundo, lá bem no fundo..
prefiro acreditar que possa haver salvação!
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